São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995
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Decisão por pênaltis é o fim da picada

MARCONDES SEROTINI FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Devido à capacidade arguta de argumentação de Marcelo Coelho, não escrevo para derrubar suas palavras, mas sim para ver se consigo pegá-lo num contra-ataque fulminante, porém cordial, opinando na condição de torcedor.
Quem acompanha os jogos sabe por que a decisão de qualquer título que seja, por pênaltis, é o fim da picada -o anticlímax. O pênalti não é a expressão máxima da habilidade no futebol. Há muitos lances dentro de uma partida que nos levam a ter certeza das qualidades deste ou daquele jogador. O pênalti é tão míope que nós ganhamos uma Copa do Mundo nas penalidades máximas e até hoje alguma coisa está faltando nessa conquista.
Que o preparo físico é muito mais apurado e que as equipes cada vez mais se equilibram é fato inconteste; só que não se pode esquecer que o futebol é o esporte em que o imponderável tem mais força de decisão do que qualquer outro.
É o esporte em que o individualismo pode imperar majestosamente, em que um único lance de um jogador atuando isoladamente, ou um chute fortuito, ou uma sequência de dribles podem decidir uma partida e encher nossos olhos com imagens que ficarão marcadas para o resto de nossas vidas, pela beleza, pela inteligência, pela habilidade.
O que aconteceu e o que mexeu com os neurônios afiados do articulista brilhante foi a extrema coincidência de vários resultados em um curto período de tempo, como os de Grêmio e Palmeiras, que ilusoriamente deram a impressão de igualdade de forças. Algo parecido, só daqui a cem anos. A equivalência a que se refere o articulista não existe, nem nas fases classificatórias, quiçá nas finais.
Estatísticas, gráficos, a informática nos esportes, profissionais cada vez mais especializados em tirar o máximo do atleta e toda a parafernália criada para aumentar a produção de uma equipe são fatores coadjuvantes na performance, que podem rapidamente sucumbir perante um toque de calcanhar de um abençoado que coloca o companheiro na cara do gol.
Sobre a semelhança com um jogo de xadrez, muito provavelmente ele se referiu a Corinthians x Palmeiras. Ora, vejamos. Trata-se da maior rivalidade do futebol brasileiro; de dois técnicos competentíssimos e de dois elencos com potenciais que podem explodir em momentos oportunos e fatídicos. Nada mais justo que o jogo seja ``cabeça": é uma final de Campeonato Paulista!
Com tantas peculiaridades em jogo, é muita maldade sugerir que o jogo seja decidido por pênaltis por uma suposta igualdade que definitivamente não existe.
Senão faríamos como sugere o escriba José Simão: tire os tempos e ponha logo a prorrogação, ou os pênaltis.
Ao se vencer, tudo se completa perfeitamente. Mesmo que a vitória tenha sido conseguida com um gol de mão, aos 45min do segundo tempo e impedido, é dotado de toda inteireza possível. Se for por pênaltis, fica faltando um pedaço, como diria o Djavan.

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