São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995 |
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`Os Silêncios do Palácio' retrata mulher tunisina
JOSÉ GERALDO COUTO
Produção: França/Tunísia, 1994 Direção: Moufida Tlatli Elenco: Amel Hedhili, Hend Sabri, Naja Ouerghi, Ghalia Lacroix Onde: Espaço Banco Nacional de Cinema Moufida Tlatli, que escreveu, dirigiu e fez a montagem de ``Os Silêncios do Palácio", é uma mulher tunisina que estudou cinema em Paris. A informação não é ociosa. O filme é justamente sobre o tormento que significa ser uma mulher tunisina, visto pelo olhar de quem viveu isso na carne, mas agora tem um certo distanciamento para examinar a questão num contexto mais amplo. Pois ``Os Silêncios do Palácio" é a história de uma cantora tunisina, Alia, filha bastarda de um príncipe e uma serva, mas é também a complexa história da própria Tunísia, que nas últimas décadas se livrou do domínio francês e, ao mesmo tempo, se ocidentalizou, mesclando milenares costumes muçulmanos a um certo aburguesamento europeu. Mas o filme não pretende ser um copioso ``painel" da Tunísia ou algo do gênero: todas as contradições da história e da cultura do país se concentram na trajetória da jovem Alia. É no corpo e no espírito da garota que o filme vai buscar essas contradições e é deles que extrai sua formidável força dramática. Alia está em cena praticamente o tempo todo, seja como participante ativa, seja como espectadora. Nesta última situação, ela vê a mãe -uma criada durante o dia- se transformar à noite em dançarina e amante dos príncipes do palácio. Vê o país destroçado pela guerra de independência, vê o sistema de castas se eternizar, vê o próprio corpo se desenvolver e escapar de sua compreensão. A cena em que Alia menstrua pela primeira vez, filmada em doloroso silêncio, é exemplar da agudeza com que o filme observa os detalhes da vida feminina. Não é por acaso, aliás, que se sucedem as cenas de partos, menstruações, abortos. Ainda que a visão geral seja pessimista -a história é contada em retrospecto pela protagonista já adulta, uma cantora frustrada prestes a fazer um aborto-, o que fica na lembrança é uma porção de belas mulheres de olhos muito negros e dentes muito brancos. Mulheres que sofrem a sina de carregar uma transbordante sensualidade por um mundo seco, masculino, duro e estéril como o deserto em volta. Texto Anterior: Forma faz panorâmica do design do século Próximo Texto: ``Beijo de Humor" vai da casa ao teatro Índice |
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