São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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BC pede à Receita investigação sobre banco

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos últimos dez meses, os diretores do Banco Econômico começaram a se desfazer dos seus patrimônios pessoais e os da própria instituição financeira, já prevendo o bloqueio e a intervenção feita pelo Banco Central na semana passada.
O Departamento de Fiscalização do BC já acionou a Secretaria da Receita Federal para realizar uma investigação detalhada sobre as eventuais operações de transferência de bens da diretoria para outras pessoas, como forma de escapar do bloqueio.
A análise preliminar realizada pelo BC mostra que mais de R$ 500 milhões, oriundo da venda de imóveis, dividendos de acionistas do Econômico e participação acionária em outros grupos, foram desviados para o exterior.
Segundo a Folha apurou no BC, o Departamento de Fiscalização estima que a ação preventiva do alto escalão do Econômico pode superar US$ 1 bilhão.
O total de depósitos e aplicações financeiras dos clientes do Econômico atinge o equivalente a R$ 1,8 bilhão (cerca de R$ 800 milhões só em conta corrente e em poupança).
Por enquanto, o BC só autorizou o saque até R$ 5.000, a partir da semana que vem.
Qualquer intervenção do BC em instituições financeiras prevê o bloqueio de bens pessoais dos diretores e do próprio banco, ou seja, não podem ser vendidos ou transferidos para outras pessoas.
É a forma de tentar assegurar a cobertura de débitos do banco sob intervenção com devedores e correntistas.
Além disto, este mecanismo também funciona como uma forma de pagar o prejuízo de eventuais práticas irregulares realizadas pela diretoria na administração da instituição sob intervenção.
Por isto mesmo, a fiscalização do BC se preocupa com a saída irregular de recursos que poderiam estar cobrindo os débitos do Econômico com clientes e com o próprio Banco Central, que já injetou US$ 1 bilhão na instituição baiana.
Por enquanto, nem o BC e nem o interventor no Econômico, Francisco Flávio Barbosa, comentam oficialmente a investigação sobre operações irregulares realizadas pela diretoria do Econômico.
O argumento é que qualquer declaração sobre o assunto seria considerado quebra do sigilo bancário.
O grupo do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) também é cauteloso com relação à administração do ex-presidente do Econômico e aliado político, Ângelo Calmon de Sá.
O vice-líder do governo na Câmara, Benito Gama (PFL-BA), afirmou que ``nunca" foi cogitado, nas negociações com o governo federal, a preservação de Calmon de Sá na gestão do Econômico, no caso de suspensão da intervenção.

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