São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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A CBF e a NBA

JUCA KFOURI

O técnico Carlos Alberto Parreira gosta de dizer que, se o futebol brasileiro fosse organizado como o europeu, teríamos aqui uma verdadeira NBA. A rigor, não há nada de novo nisso. Trata-se de uma simples constatação que nem sequer causa estranheza.
Estranha, isso sim, é a diferença entre a CBF e a entidade que organiza o basquete profissional norte-americano.
Por que não temos nada nem parecido, algo que dê ao futebol a qualidade técnica e a dimensão de negócio há muito trabalhadas pelos sobrinhos de tio Sam? Só porque o que temos aqui é o genro do sogro Havelange? Definitivamente, não. Claro que tem a ver com isso, mas o testa-de-chumbo do poderoso chefão da Fifa é apenas consequência.
Veja, por exemplo, o Campeonato Brasileiro que começa hoje.
Na primeira rodada, já não tem o Flamengo, o clube mais popular do mundo. Não tem o São Paulo, nosso recente bicampeão mundial.
Não tem nenhuma grande abertura, nenhuma festa, três joguinhos nascidos ao léu, nada que leve o torcedor para pertinho do céu. E estamos tratando do futebol quatro vezes campeão mundial!
O fato é que, tirante a gestão de Giulite Coutinho na CBF, no início da década de 80, e o esforço do Clube dos 13 e da Rede Globo com a Copa União, em 1987, nunca mais tivemos nada que se assemelhasse a um projeto de campeonato nacional com pé e cabeça.
É tudo feito ao deus-dará, sem pompa nem circunstância, com regulamentos estapafúrdios como o de agora, numa palavra e ainda com boa educação, em cima das pernas -e, o que é pior, das pernas de pau de nossos cartolas, porque, se ainda fosse das de Marcelinho, Rivaldo, Sávio, vá lá.
Mas, por que não é possível a CBF vir a ser uma NBA?
Porque a CBF não quer ser uma NBA, não quer dividir os lucros, não tem o menor interesse em desenvolver o futebol, seu miserável presidente rico nem gosta do assunto.
O torcedor devia se mobilizar e exigir mudanças, utopia em um país que raramente se mobiliza para exigir direitos mais fundamentais.
Não que o torcedor diga amém, porque seu protesto é não ir a campo, razão suficiente para que qualquer executivo minimamente sério desse tratos a bola para reverter o quadro.
Se o mercado diz não ao futebol, apesar de o mercado amar o futebol, alguma coisa de muito errada está sendo feita e precisa ser corrigida. Quem se habilita?

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