São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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Saem hoje prêmios do 23º festival de cinema

Cena do episódio de Jorge Furtado de ``A Felicidade É..."

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO

Divulgação
Serão conhecidos hoje às 21h os vencedores do 23º Festival de Gramado - Cinema Latino. Há pouco a premiar na mais fraca competição em anos. Os principais kikitos devem ficar entre ``A Isca" de Bertrand Tavernier, ``El Callejon de los Milagros" de Jorge Fons, o documentário ``No Rio das Amazonas" de Ricardo Dias e ``Amnésia" de Gonzalo Justiniano.
O festival atingiu seu ápice na noite de anteontem, com a dupla sessão de lançamentos brasileiros: ``Felicidade É...", em competição, e ``O Quatrilho", fora de concurso. A temática regional do segundo, tratando da própria história da serra gaúcha que sedia a mostra, lotou o Palácio dos Festivais, exigindo segunda projeção já na madrugada de ontem.
``Felicidade É..." e ``O Quatrilho" partilham a aposta no passado como forma de salto atrás que viabilizaria a anunciada retomada, dois espaços adiante, do cinema brasileiro. O primeiro, um filme em quatro episódios com tema comum, busca alimentar-se do prestígio da ``primavera" do curta-metragem nacional, testemunhada aqui mesmo há quase uma década (e neste ano sepultada pela segunda safra ruim sucessiva), reunindo alguns dos mais talentosos cineastas revelados: A.S. Cecílio Neto, Jorge Furtado, José Pedro Goulart e José Roberto Torero. ``Felicidade" é um rito de passagem.
Mas se ``Felicidade" tem os olhos postos no fins dos anos 80, já ``O Quatrilho" olha ainda para trás, tendo por referência a produção popular mediana de meados dos anos 70, no auge da era Embrafilme. É com visível nostalgia daquele período de estreita sintonia com o mercado que se montou o novo projeto de Lucy e Luiz Carlos Barreto (``Dona Flor e Seus Dois Maridos"), para direção do filho Fábio (``Luzia Homem"). ``O Quatrilho" é a busca de um público perdido.
Em quase tudo o mais, ``Felicidade" e ``O Quatrilho" são filmes polares. O primeiro é uma produção cooperativa que aposta no apelo autoral; o segundo, uma operação audaciosa de R$ 1,8 milhão, acredita sobretudo no impacto de seus inequívocos valores de produção (elenco estelar, locações magníficas, fotografia do mago argentino Félix Monti, música tema de Caetano Veloso).
``Felicidade É..." concretiza bem seu objetivo: tem a organicidade fundamental para seus quatro episódios não sejam apenas quatro curtas amarrados num pretenso longa. Os episódios são: ``Sonho", ``Bolo", ``Amor!" e ``Estrada".
Já ``O Quatrilho" vive aqui e acolá da eficiência dos talentos que conseguiu reunir, mas o todo não consegue cumprir o programa mínimo da busca estudada do convencional. ``O Quatrilho" aposta que a retomada do cinema brasileiro vai ser dar através de um novelão. É ver para crer. Há melhores na TV.

O crítico AMIR LABAKI viaja a Gramado a convite da organização do festival.

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