São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresários condenam proposta do governo

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A proposta do governo federal para a reforma tributária é modesta. O governo não mostra disposição de fazer mudanças fortes porque cedeu às pressões corporativistas dos governadores e dos congressistas.
A avaliação é de Jorge Gerdau Johannpeter, coordenador da Ação Empresarial Integrada, que congrega as associações e federações empresariais do país em defesa da revisão da Constituição.
Para Gerdau, a proposta do governo é mais um subterfúgio para arrecadar mais sem mostrar ao contribuinte o que é feito com o dinheiro dos impostos.
A proposta governamental deve se limitar à transformação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) em uma espécie de ICMS federal (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
A Ação Empresarial defende a proposta da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da USP (Universidade de São Paulo), para a reforma tributária.
Segundo essa proposta, seriam criados poucos impostos, no máximo seis, com alíquotas baixas.
Os impostos passariam a ser declaratórios, baseados em três fatos geradores: renda, consumo e propriedade. Cada modalidade de tributo seria destinado a uma esfera da administração.
Jorge Gerdau esteve em São Paulo na sexta-feira, para participar do 2º Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, na Universidade de São Paulo. Leia a seguir os principais trechos da sua entrevista à Folha:

Folha - Como o sr. avalia a proposta de reforma tributária do governo?
Jorge Gerdau Johannpeter - Pelas informações que está se obtendo, a reforma é modesta porque a pressão corporativista dos Estados faz com que não haja disposição de fazer mudanças fortes.
Folha - A Ação Empresarial vai fazer algo para reverter esse quadro desfavorável?
Gerdau - Temos a esperança de que o presidente Fernando Henrique, consciente da sua responsabilidade de liderar o processo de reconstrução do país, apresente propostas mais profundas.
Estamos trabalhando junto às áreas técnicas do governo para que, quando o debate for para o Congresso, o empresariado possa colocar suas posições claramente.
Folha - Qual é o principal defeito da proposta oficial?
Gerdau - O maior problema é o que chamamos de impostos em cadeia, ou seja uma série de impostos e tributos que incidem a cada etapa do processo de produção encarecendo os produtos e tirando a competitividade das exportações.
Folha - A reforma tributária se limita à transformação do IPI em um ICMS federal?
Gerdau- É uma reforma modesta, porque os impostos que permanecem costumam esconder a verdade do contribuinte e não se tem transparência.
Impostos como PIS e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) são mecanismos que arrecadam sem que o contribuinte tenha consciência clara do que está pagando.
E numa sociedade democrática aberta é preciso ter transparência absoluta daquilo que se arrecada, o que realmente se incorpora no custo do bem sob a forma de imposto e a destinação desse imposto. Enquanto não houver uma maturação de um amplo debate, nessa linha todo o restante são subterfúgios para arrecadar mais sem mostrar ao contribuinte o que é feito com o dinheiro.
Folha - Qual é a solução apresentada pelos empresários?
Gerdau - Defendemos a proposta de reforma tributária elaborada pela Fipe, da USP. Somos favoráveis a poucos impostos, base tributária ampla e as menores alíquotas possíveis para gerar a arrecadação desejada e combate à sonegação.
A proposta propõe uma divisão natural de competências tributárias: a União ficaria com a base da receita tributária da renda; os Estados com o consumo; e os municípios com a propriedade.

Texto Anterior: Hostilidade petista é fratricida
Próximo Texto: Minas gasta R$ 21 mi para avaliar imóveis
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.