São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Hostilidade petista é fratricida

CARLOS EDUARDO ALVES
DO ENVIADO ESPECIAL

O legado de Luiz Inácio Lula da Silva ao eleito de hoje na convenção petista de Guarapari (ES) não é de fácil administração.
É que o PT está cada vez mais parecido com os outros partidos, e a relação de hostilidade entre petistas é única no universo político do país.
Se é verdade que o PT ainda conta com a maior militância partidária do país, é evidente também que mantém a tradição fratricida da esquerda brasileira.
A relação de ódio existente atualmente entre petistas, como já foi definida por Lula, chega a falcatruas que escandalizam os cândidos fundadores de uma legenda que nasceu para lutar, entre outras coisas, pela ética na política.
Exemplo da degeneração é a fraude grosseira na eleição de delegados paraibanos à convenção, com final previsto para hoje.
Falsificações de assinaturas de filiados e outras trapaças acabaram por determinar a intervenção da direção nacional do partido no diretório paraibano.
Paralisado politicamente devido à junção da falta de uma maioria com o oportunismo de grupelhos que se encastelaram no poder interno, a direção nacional do PT acabou optando por uma saída humorística: interveio no diretório, mas legitimou 9 dos 11 delegados paraibanos para a convenção.
A solução ``mineira" foi enfim barrada pelo plenário da convenção, que decidiu impugnar todos os delegados que representavam o PT paraibano.
Politicamente, o partido patina em velhos dilemas. Abriga quem exaltava as supostas maravilhas do Leste Europeu meses antes da derrocada do ``socialismo real".
São as viúvas do stalinismo e quem, por opção ideológica e por falta de voto, tem certeza que a via institucional não elevará o padrão de vida dos miseráveis.
Lula, um líder carismático, costurou ou remendou até hoje a colcha petista.
A principal liderança petista se cansou das brigas internas e vai ``para a rua" na busca do título de ``promotor da cidadania".
A dúvida é se a envelhecida, mas ainda aguerrida militância do PT, que cada vez mais aparece em cena apenas nos períodos eleitorais, resistirá até 98.
Nessa eleição, a persistir o potencial eleitoral de Lula, o sonho presidencial manterá por alguns meses a falsa unidade.

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