São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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FHC se diz disposto a conversar com ACM

SERGIO TORRES; WILLIAM FRANÇA
ENVIADOS ESPECIAIS A RESENDE (RJ)

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem em Resende, a 150 km do Rio, que está disposto a voltar a conversar com o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) sobre a crise do Banco Econômico.
“A qualquer hora, em qualquer lugar”, afirmou FHC durante entrega de espadins a 465 cadetes da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), centro de formação de oficiais do Exército.
Anteontem, ACM disse durante entrevista coletiva, em Salvador, que pode deixar de apoiar o governo de FHC, “se a Bahia exigir”.
O senador considera que o Palácio do Planalto e a equipe econômica desfizeram acordo selado entre ele e o presidente para acabar com a intervenção no Banco Econômico por meio da estatização da instituição financeira.
Em nota da Presidência da República lida na solenidade na Aman, FHC conclamou os cadetes a “manter incólume a vocação, apesar de restrições materiais e episódicas, impostas por uma conjuntura econômica adversa”.
Anteontem à noite, em conversa com jornalistas em Penedo (distrito de Resende), onde pernoitara, Fernando Henrique disse que o seu governo não terminou a semana desgastado apesar das crises do Econômico e do caso Dallari. “Só se desgasta na política quem não acredita no que está fazendo.”
Fernando Henrique declarou também que não voltou atrás no acordo que teria firmado com o senador Antônio Carlos Magalhães.
“Eu vivo lendo nos jornais que eu recuei. Sabe por quê? Porque os avanços não foram feitos por mim, foram impostos, e depois quando digo o que estou pensando... ah, recuou! Não recuei nada”, disse.
FHC procurou demonstrar-se despreocupado com as dificuldades que pode ter na articulação do apoio político à sua administração.
“O governo resiste enquanto tiver apoio popular. Governo no Brasil, hoje, tem que ficar apontando para a frente, no que o povo e a sociedade desejam. Isso é que dá forças”, disse o presidente.
Fernando Henrique avalia que não há motivo para temer consequências na relação com sua base parlamentar em decorrência da recente turbulência política.
“É sempre assim: de repente, parece que vem uma nuvem negra, uma tempestade, mas é um céu azul. Depois vem um raio nesse céu azul. É da vida política”, afirmou durante a conversa.
Na opinião de FHC, quem não estiver acostumado a lidar com esses problemas “pode ficar tremendo de medo, se assustar à toa”.
O presidente se considera um destemido. “Não tenho medo nenhum. Eu sou assim, sou cordial. Medo por quê?”
Após deixar Resende, ao final da tarde de ontem, FHC se dirigiu para sua residência em São Paulo.
Um forte esquema de segurança foi montado para a permanência do presidente em seu apartamento, em Higienópolis (zona central).
A Polícia do Exército estava acompanhada de 30 homens da tropa de choque da Polícia Militar. Em frente ao prédio, estavam estacionados três camburões e um blindado usado para dispersar manifestações.

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