São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995 |
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Alucinógeno tirado de flor é usado em roubo
AURELIANO BIANCARELLI
A droga, um anticolinérgico, tem a capacidade de bloquear a passagem de informações entre os neurônios e de alterar as funções cerebrais. Misturada com sedativos e bebida alcoólica, a escopolamina faz a pessoa perder a memória e obedecer ordens de terceiros. Horas depois, quando a vítima recobra a consciência, descobre que foi roubada, assinou cheques e retirou dinheiro de caixas eletrônicos. Em Bogotá, capital da Colômbia, a mistura é conhecida como ``burundanga". O governo classificou o golpe como uma ``epidemia" (leia texto nesta página). No Brasil, as polícias de São Paulo e Brasília não têm informações sobre golpes desse tipo. ``A recomendação é não tomar nem comer nada oferecido por estranhos", diz Anthony Wong, diretor da Ceatox, Central Toxicológica do Hospital das Clínicas. A escopolamina é extraída de plantas da família das daturas. No Brasil, elas são conhecidas como estramônio, lírio, saia branca, saia roxa, trombeta ou zabumba (leia texto nesta página). O chá dessas plantas provoca alucinações que podem durar até 48 horas. Hospitais de São Paulo e de várias outras capitais já registraram casos de intoxicação. Um estudo da Escola Paulista de Medicina mostra que 2,4% dos estudantes já experimentaram algum anticolinérgico em forma de chá ou medicamento. Na Colômbia, marginais usam a escopolamina em pó, preparada em laboratórios. No Brasil, o produto não está entre as substâncias controladas e pode ser encontrado em farmácias de manipulação. ``Pessoas sob o efeito dessa droga podem perder totalmente o controle de si", diz Anthony Wong. Dois anos atrás, descobriu-se que usineiros do Nordeste estavam dopando bóias-frias com Artane, nome comercial de um anticolinérgico para o mal de Parkinson. Um carregamento de 31 mil unidades do medicamento foi apreendido na Paraíba, a caminho de Pernambuco. Segundo Elisaldo Carlini, secretário nacional de Vigilância Sanitária, o Artane fazia os bóias-frias ``trabalhar mais, comer menos e não reclamar". Cada trabalhador recebia dois comprimidos por dia. Carlini, que dirige o Cebrid -um centro de estudo de drogas da Escola Paulista de Medicina-, diz que a escopolamina já foi utilizada como ``soro da verdade". A droga era misturada com um depressor do sistema nervoso central e injetada no suspeito ou prisioneiro. ``O nível de consciência da pessoa diminui de tal maneira que ela conta o que não quer contar", diz Carlini. Os ``zumbis", vivos-mortos que segundo a lenda vagariam à noite no Haiti, seriam vítimas de feiticeiros que os obrigavam a mascar plantas desse tipo. Texto Anterior: Caneta retoca esmalte na unha Próximo Texto: 500 pessoas caem no golpe por mês Índice |
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