São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995 |
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Caminhos estéticos da saúde
KATIA CANTON
Arte, por si só, seja ela plástica, corporal ou musical, não cura ninguém. Caso assim fosse, todo aquele que é submetido ao fazer artístico seria reintegrado à sociedade e a chamada ``art brut" (ou ``arte incomum") simplesmente não existiria. Atribuída a doentes mentais e a ``outsiders", a expressão ``art brut" foi utilizada pela primeira vez pelo artista Jean Dubuffett, em 1960, embora, desde os anos 40, surrealistas, tais como André Breton, tenham se dedicado a homenagear esse tipo de produção. A designação em português, ``arte incomum", foi adaptada do francês e utilizada pela organização da 16ª Bienal de São Paulo, em 1981, por exigência do próprio Dubuffet, já que a mostra brasileira tratava de arte produzida por ``outsiders", mas não tinha a sua curadoria. A ligação entre arte e cura psicológica se ergue num terreno tão fértil quanto inseguro no que diz respeito a seus limites e classificações científicas. O fazer artístico, como forma de expressão ancorada na liberdade e na criatividade, pode e deve tornar-se um poderoso instrumental para diagnosticar a personalidade e os desejos humanos, servindo assim como auxiliar no trabalho de terapeutas que atuam em diferentes áreas. O problema está, como questiona a própria organizadora do livro, no termo ``arte-terapia". Curar não é nem pode ser o intuito da arte, cuja existência se baseia na filosofia estética. Portanto, o termo alternativo, ``terapias expressivas", provavelmente se adequaria melhor ao trabalho dos terapeutas que escrevem nesse ``A Arte Cura?". À parte o problema da nomenclatura, as discussões sobre a validade das expressões artísticas na psicoterapia e psicanálise articulam-se com vitalidade nos vários artigos do livro. Quase 20 anos depois da pergunta do médico do Hospital do Servidor, Maria Margarida de Carvalho, organiza uma mesa-redonda na qual a pergunta é lançada novamente, dessa vez para seus colegas atuando na própria área. Margarida de Carvalho oferece um breve e interessante histórico dessa prática, Liomar Quinto de Andrade explica suas diferentes linhas teóricas, da crença de Freud de que o inconsciente fala mais por meio de imagens do que de palavras à idéia de Jung sobre a capacidade simbólica da linguagem e memória corporal. Whilhelm Kenzler e Joya Eliezer oferecem os textos mais inspirados do livro, a respeito da ligação entre cura e, isso sim, liberdade de criação. Texto Anterior: Chaves que guardam os segredos do Plano Real Próximo Texto: Solidão ensina sobre convivência Índice |
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