São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995 |
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ONU faz a sua maior reunião
MARIA ERCILIA
A expectativa é de que compareçam no total mais de 40 mil pessoas, entre delegações de 184 países. A delegação brasileira será chefiada pela primeira-dama, Ruth Cardoso. A subchefia é de Rosiska Darcy de Oliveira, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. A preparação da 4ª Conferência da Mulher na capital chinesa tem um histórico acidentado. A China foi escolhida para abrigar o encontro unicamente devido ao fato de ter sido preterida como anfitriã das Olimpíadas de 2000. A péssima tradição do país em direitos humanos, em especial femininos, não ajudou no estabelecimento da agenda do encontro. A questão que mais polêmica gerou foi o encontro paralelo de ONGs (Organizações Não-Governamentais), com data marcada para o próximo dia 30, e que deve atrair 35 mil pessoas. O governo chinês decidiu que as ONGs ficariam em Huairou, a duas horas de Pequim, numa localidade com infra-estrutura precária. Houve protestos e ameaças de boicote de várias organizações. O governo chinês acabou prometendo bloquear uma auto-estrada entre Huairou e Pequim, somente para o tráfego das ONGs, além de fazer as reformas e instalações necessárias. A China proibiu a participação de ONGs do Tibete. O encontro consolidará uma Plataforma de Ação concentrada em obstáculos fundamentais ao avanço da mulher no mundo. A plataforma estabelece prioridades básicas a serem implementadas nos próximos cinco anos, em 12 áreas. São estas: pobreza e mulheres, efeitos de conflitos armados, educação, saúde, acesso de mulheres a processo produtivos, divisão de poder e decisões, mecanismos para promover o avanço da mulher, direitos humanos das mulheres, contribuição das mulheres à administração de recursos naturais. Uma nova seção sobre meninas foi acrescentada. Os itens da plataforma que permaneciam "entre colchetes" (ou seja, estão em dissenso) são: saúde sexual e reprodutiva e direitos reprodutivos, embora essas questões já tivessem sido fechadas na conferência do Cairo. Outros itens entre colchetes incluem referências a direitos humanos como "universais", referências a valores religiosos, referências a orientação sexual e o uso da palavra "gênero". A delegação da Igreja Católica para a conferência será chefiada por uma mulher, pela primeira vez na história do Vaticano. O papa tem feito críticas ao documento da ONU para a conferência. Afirma que há demasiada ênfase em questões como orientação sexual e aborto, e pouca em família e maternidade. Sua recente carta aberta às mulheres, com um inédito pedido de desculpas pelo papel da Igreja na repressão feminina, não modificou os pontos das críticas do Vaticano. A primeira-ministra do Paquistão, Bhenazir Bhutto, confirmou sua presença na conferência. Um dos principais documentos apresentados na conferência será a pesquisa "Mulheres numa Economia Global em Mutação", feita em países do Terceiro Mundo. A conclusão do estudo é que "onde as mulheres avançaram, houve crescimento econômico, onde elas foram restringidas, houve estagnação". A última conferência mundial de mulheres organizada pela ONU ocorreu há dez anos, em Nairóbi. A primeira foi realizada na Cidade do México em 1975. Próximo Texto: Brasil lidera delegação da América Latina Índice |
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