São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Brasil lidera delegação da América Latina

Plataforma do país é a mais liberal entre latino-americanos

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Segundo Rosiska Darcy, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, a posição do Brasil na Conferência Mundial da Mulher é bastante "moderna" em relação à de outros países da América Latina.
"Principalmente na área de direitos reprodutivos e legislação trabalhista, temos uma posição bastante definida", afirma ela.
"Teremos uma delegação forte, chefiada pela primeira-dama Ruth Cardoso, num trabalho em sintonia com o Comunidade Solitária."
Foi realizado em São Paulo, no Parlatino (Parlamento Latino-americano), um encontro de preparação para a conferência. Nos dias 28 e 29 de julho reuniram-se parlamentares da América Latina (Costa Rica, Venezuela, Colômbia e Brasil) para preparar o documento da América Latina e Caribe que será apresentado em Pequim.
A deputada Marta Suplicy (PT-SP) ecoa a afirmação de Rosiska Darcy, de que a plataforma brasileira é muito "liberal".
"Questões de orientação sexual, por exemplo, nem sequer são discutidas em alguns países da América Latina", diz ela. "Esse encontro da América Latina foi muito proveitoso".
Entre 31 de julho e 2 de agosto foi realizado o seminário Mulher e Mercosul. Parlamentares do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai se reuniram para comparar sua experiência com a do Nafta (Tratado de Livre Comércio Norte-americano, que reúne EUA, Canadá e México) e a da União Européia.
"A idéia do encontro é colocar as mulheres em contato com questões macroeconômicas e perceber o impacto delas em sua vida", afirma Branca Moreira Alves, cientista política, responsável pelo Brasil na Unifem, órgão da ONU para questões femininas.
"Entre as conclusões do encontro, verificou-se que na formação de blocos como o Nafta e a União Européia, os países de legislação trabalhista e de direitos da mulher mais avançadas influíram positivamente nos outros", diz.
Segundo ela, ``houve temor de que no Mercosul ocorresse o efeito contrário". O Uruguai tem a legislação mais avançada do bloco formado pelo Mercosul.
Durante o encontro, foram criados subgrupos de trabalho para as questões mais urgentes, o trabalho e a previdência social.
Segundo Ana Maria Brasileiro, que dirige em Nova York a área de América Latina e Caribe da Unifem, os dois focos principais de trabalho são os arranjos institucionais, as organizações que influirão futuramente em decisões, e os recursos financeiros.
"O problema do movimento feminino é dinheiro", diz.
Rosiska Darcy afirma que a idéia é transformar em lei o que for discutido na capital chinesa. "Temos uma Constituição moderna em relação à mulher, mas há necessidade de uma série de leis complementares."
Rosiska defende a atuação do movimento feminino no Brasil. "Não acho que o movimento da mulheres careça de visibilidade. Evoluímos do denuncismo dos anos 70 para um foco na criação de políticas internas."
Otimista, ela considera que a conferência da ONU "vai marcar o fim do século 20".
"As questões femininas foram as mais quentes nos últimos encontros deste teor, como a conferência do Cairo e a de Viena".

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