São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Julgamento rende US$ 200/dia a camelô

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
EM LOS ANGELES

O interesse pelo julgamento do ex-jogador de futebol americano O. J. Simpson vale US$ 200 por dia para o desempregado Jeff Miller, 34.
É quanto ele levanta todo dia vendendo camisetas e quadros com caricaturas dos personagens envolvidos no caso. O movimento oscila de acordo com as testemunhas da semana e as novidades apresentadas ao júri.
Nos bons dias, Miller vende 20 camisetas, a US$ 10 ou US$ 20, dependendo do freguês. Nos dias ruins, vende de cinco a dez.
A curiosidade do público já foi maior. Em janeiro, rendia US$ 600 diários para Steve S., 21, também camelô. Em junho, ele passou a vender relógios, além das camisetas pró-Simpson, para conseguir somar US$ 200.
Os dois estão atrás de turistas como os britânicos Graeme Wood, 36, e Almona Choudhury, 30.
Gente que vem à rua Temple, no centro cívico de Los Angeles, para ver não mais do que a fachada da corte em que o ex-jogador está sendo julgado.
Com sorte, assistem a algum dos advogados entrando pelas portas da direita, a que só funcionários e a imprensa têm acesso.
É no canto direito do prédio que os turistas se aglomeram, com suas câmeras fotográficas, pouco antes das 9h, quando os personagens do caso chegam à corte.
Quem quiser assistir a uma sessão do júri precisa de mais sorte ainda. Às 7h, o tribunal sorteia sete das pessoas que esperam em frente às portas do lado esquerdo.
Os escolhidos podem passar o dia num banco de madeira, cerca de cinco metros atrás de Simpson.
"É fascinante, diz Graeme Wood. Advogado, veio à rua Temple atraído pela defesa de O. J., que considera brilhante.
Jornalistas que acompanham o caso discordam. "Estou cansado, diz Chatman Furnill, repórter da rede de televisão americana NBC que está atrás de Simpson desde junho do ano passado.
Henry Weinstin, que já escreveu mais de 200 reportagens sobre o assunto para o jornal "Los Angeles Times, fica "exasperado, irritado com o nonsense da acusação e da defesa.
"É difícil arrumar um enfoque original, diz o correspondente do jornal "The New York Times, David Margolick.
A repórter da rede CBS Erin Moriarty acha que, como o julgamento dura muito, outros casos desviam o interesse do público.
"Eu quero que demore muito mais, assim ganho mais dinheiro, diz Darryl Brunson, 20, enquanto disputa espaço para suas camisetas ao lado da placa de cimento que identifica o prédio da Corte Criminal.
Brunson não segue o caso pela TV, mas conhece todos os detalhes. Ele suspeita das provas da polícia e diz que Simpson só vai ter um julgamento justo porque é rico. Brunson encerra a entrevista em 150 segundos: "Desculpe, mas agora preciso faturar.
A jornalista ANA ESTELA DE SOUSA PINTO está em Los Angeles como bolsista do World Press Institute

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