São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Dona-de-casa produz US$ 11 bi por ano ;Igualdade

DA REPORTAGEM LOCAL

Dona-de-casa produz US$ 11 bi por ano
Relatório da ONU mostra o quanto o trabalho não-remunerado das mulheres renderia para a economia mundial
O trabalho não-remunerado das mulheres equivale a uma perda de US$ 11 bilhões por ano na economia mundial, afirma o Relatório do Desenvolvimento Humano de 1995, realizado pela ONU (Organização das Nações Unidas).
``Se as estatísticas nacionais refletissem corretamente o trabalho feminino, o mito de que os homens são os principais ganhadores de pão do mundo seria seriamente abalado", escreve Mahbud ul Haq, pesquisador que chefiou o relatório.
No Brasil, por exemplo, as donas-de-casa não estão incluídas na categoria das pessoas economicamente ativas.
O relatório da ONU conta as atividades domésticas como horas de atividade econômica (leia texto abaixo) e conclui: as mulheres trabalham mais do que os homens -e ganham menos.
Nos países em desenvolvimento, as mulheres são responsáveis por 53% do trabalho total (remunerado e não-remunerado) e nos países industrializados, por 51%. Mas cerca de 2/3 da carga de trabalho feminino são atividades não-remuneradas.
O estudo, realizado em nove países subdesenvolvidos, conclui que a carga horária diária de trabalho da mulher é, em média, 13% maior que a dos homens.
Entre os países pesquisados pela ONU, o que tem a menor diferença é a Coréia do Sul (oito minutos a mais para as mulheres) e o que tem a maior é o Quênia, onde o trabalho rural da mulher chega a ter três horas a mais do que o do homem (o que soma 45 dias ao longo de um ano).
Por outro lado, o tempo que os homens gastam em atividades não-remuneradas, como cuidar dos filhos, por exemplo, representa, em média, menos de 25% do seu tempo de trabalho.
Esse dado também varia entre os países e novamente a Coréia do Sul está à frente na igualdade entre os sexos: o homem coreano gasta 44% de seu tempo de trabalho em atividade não-remunerada.
Nos países industrializados, a carga de trabalho de homens e mulheres é 20% inferior à dos países em desenvolvimento.
Entre os países desenvolvidos pesquisados, a Itália é o que apresenta maior desigualdade entre o trabalho de mulheres e homens.
Lá, as mulheres são responsáveis por 81% do trabalho não-remunerado.

Igualdade
O relatório da ONU deste ano divulga também um índice novo, criado para medir a igualdade entre homens e mulheres em diferentes países.
O Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado ao Sexo (IDS) foi pesquisado em 130 países, levando em conta o desequilíbrio entre os sexos em: saúde, educação, expectativa de vida e rendimento econômico.
O relatório atribuiu índices de 0 a 1, em que 1 representa a igualdade perfeita entre homens e mulheres. A conclusão é de que nenhum país oferece às mulheres as mesmas oportunidades que aos homens, já que o índice máximo foi 0,919, obtido pela Suécia.
A Finlândia é o 2º colocado em igualdade, com índice de 0,918. O Brasil está em 53º lugar, com índice de 0,709. O pior colocado é o Afeganistão, com 0,169 (leia depoimentos das mulheres abaixo).
Segundo a pesquisadora Carmen Barroso, diretora do programa de populações da Fundação MacArthur (EUA), a principal novidade do relatório da ONU é essa metodologia para comparar desigualdades entre sexos.

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