São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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General descarta novo conflito em Chiapas

Ambiente é tranquilo, diz o "homem que sufocou a revolta

FLAVIO CASTELLOTTI
ENVIADO ESPECIAL A CHIAPAS

Para o general Mario Renán Castillo, chefe das Forças Armadas no Estado de Chiapas, a possibilidade de um novo conflito entre o EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional) e o Exército mexicano é bastante remota.
``O ambiente é de tranquilidade total", disse ele, em entrevista a correspondentes estrangeiros, na cidade de Tuxtla Gutierrez, capital do Estado.
Castillo está em Chiapas desde o começo do ano. Ele foi designado para chefiar a retomada militar das quatro comunidades que permaneceram sob domínio zapatista até fevereiro.
Castillo é conhecido no país como ``o general que sufocou o movimento em Chiapas". Ele rejeita o título, afirmando que o levante acabou por si só.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - Qual é a situação atual em Chiapas? Ainda se percebe a presença do EZLN como grupo guerrilheiro organizado? Quantos zapatistas o Exército estima que existam?
Mário Renán Castillo - Hoje, o ambiente no Estado é totalmente tranquilo. É importante repetir que este ano não houve nem um choque sequer entre o EZLN e o Exército mexicano.
O número de componentes diminuiu muito. Qualquer estimativa de quantos zapatistas armados há, hoje em dia, seria especulação.
São muito menos que os 65 mil citados pelo subcomandante Marcos em um de seus comunicados.
Acredito inclusive que seja um número bastante inferior ao do contingente do Exército mexicano em Chiapas, que é de aproximadamente 8.000 homens.
"The Guardian - Para o Exército, portanto, Chiapas já vive novamente em paz?
Castillo - Não há paz, porém não há guerra. Claro que gostaríamos que houvesse paz, mas isso não depende de nós. Depende do diálogo que se está levando a cabo entre governo e EZLN.
NBC - Após décadas de abandono, por que se deve acreditar que, desta vez, a intenção do governo em ajudar os habitantes de Chiapas é para valer?
Castillo - Essa é uma questão que não envolve o Exército. Acredito que desta vez as intenções do governo têm mais chance de se concretizar, pois nunca houve, por parte do próprio governo, uma vontade tão grande em ver definitivamente resolvida a questão.
Basta lembrar que o conflito foi uma das causas da crise econômica que o país está vivendo.
"El País - Várias organizações de direitos humanos acusam o Exército de promover ações ilícitas, inclusive assassinatos, para desestabilizar a estrutura do EZLN em Chiapas. Como o sr. vê essas acusações?
Castillo - Em Chiapas, acusa-se o Exército de bombardeios, de estupros, de violações contra os direitos humanos, entre outras coisas. Mas nunca se provou nada.
Há vários casos que ainda estão sendo investigados, mas, até agora, não há nenhuma prova concreta contra o Exército.
/PING\>Folha - E como está organizado o EZLN hoje em dia? De que vive? Onde se concentra? Quem constitui sua liderança?
Castillo - A maior concentração está na Cañada (espécie de vale) da Garrucha, sul do Estado. Nessa região, estima-se que 80% dos cerca de 10 mil habitantes sejam simpatizantes do EZLN.
Os zapatistas, assim como o resto da população pobre do Estado, vivem de provisões trazidas por embaixadas, pela Igreja, pelo governo e por organizações não governamentais que visam combater a pobreza da região. Eles se misturam à população e pegam o necessário para sobreviver.
A cúpula diretiva, na minha opinião, está composta por não-índios e não-chiapanecos, na sua maioria. Como é o caso do próprio subcomandante Marcos.
Agência "DPA - E qual será o futuro do EZLN?
Castillo - Eu acredito que o EZLN vai se transformar em um partido político, ou então unir-se a algum partido já existente, provavelmente o PRD (Partido da Revolução Democrática, de esquerda).

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