São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Israel não sabe tratar minorias, diz deputada

HELIO GUROVITZ
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Chega hoje ao Brasil a deputada Yael Dayan, primeiro membro judeu do Parlamento de Israel a encontrar o líder palestino Iasser Arafat, na Tunísia em 1993.
Militante pacifista, jornalista e autora de oito livros (seis romances), Dayan nasceu em 1939, filha do general israelense Moshe Dayan (1915-81), ministro da Defesa na Guerra dos Seis Dias (1967), quando Israel ocupou a Cisjordânia, a faixa de Gaza, as colinas do Golã e Jerusalém oriental.
Casada com um general e mãe de dois filhos, Dayan participa das negociações para a entrega dos territórios aos palestinos.
Ela vem ao Brasil participar de um seminário internacional sobre discriminação étnica na USP e de um debate na Folha. Em entrevista por telefone, Dayan falou da paz com os palestinos e da discriminação dentro de Israel.

Folha - De que a sra. falará no Brasil?
Dayan - De discriminação e preconceito, algo com que todos temos de lidar em vários países.
Folha - Também em Israel?
Dayan - Sim. Há uma minoria árabe. É um Estado judaico, mas não religioso. Ainda não sabe como lidar com as minorias.
Folha - Por exemplo?
Dayan - As minorias que vivem em Israel não têm propriamente seus direitos violados. É uma questão de atmosfera, de não tratá-las totalmente como iguais. Temos uma minoria árabe de 18% e só agora, pela primeira vez, Israel vai ter um embaixador árabe.
Folha - Onde?
Dayan - Na Finlândia. Mas nosso maior problema são os palestinos dos territórios ocupados. Há uma limitação de direitos, que agora está sendo corrigida.
Folha - Qual o grau de integração da minoria árabe?
Dayan - Eles não estão buscando integração. Não estão tentando se tornar judeus, e nós não estamos tentando forçá-los.
Folha - Qual a representação árabe nas universidades?
Dayan - Ninguém recusa ninguém nas universidades. Há bolsas de estudo específicas para árabes. Na população, são cerca de 18%, mas na Universidade de Haifa, por exemplo, são menos de 10%.
Folha - Embora não haja diferença nos direitos de cidadãos israelenses, há uma distinção entre cidadãos judeus e árabes? O que a sra. acha disso?
Dayan - Isso tem a ver com as origens do Estado de Israel. Você pode chamar de discriminação, mas sem ela não haveria um país judaico. Por definição, o Estado é judeu e democrático. Dá cidadania a todo judeu que quiser, mas não a todo imigrante. O Estado aceita a definição biológica de judeu -quem tem a mãe judia- e também convertidos, tanto por ortodoxos quanto por reformistas.
Folha - Qual o papel da imprensa contra a discriminação?
Dayan - A imprensa tem um papel que nunca teve. Não tem de expressar opiniões, apenas apresentar os fatos. As pessoas são sensíveis e têm o tipo certo de reação contra a discriminação. Há jornais fanáticos, racistas. Não falo deles. Falo da maioria das pessoas que lê jornais laicos, que não se dobra ao fundamentalismo.
Folha - O fundamentalismo é o maior causa da discriminação?
Dayan - Basicamente sim. É um grupo que crê ter direitos superiores e não se curva a nenhuma lei de Estado. Que segue algo messiânico. A palavra não está ligada só ao Islã. Também há radicais judeus, islâmicos ou católicos.
Folha - Que acha de Arafat?
Dayan - É o único líder palestino que poderia ter feito o que fez. É muito inteligente, politicamente. Sabe o que é impossível. É um bom negociador. E, até agora, a experiência de Gaza deu certo.
Folha - Há pouco tempo houve um acordo parcial para a extensão da autonomia palestina à Cisjordânia. Quais os detalhes?
Dayan - Estamos retirando as tropas. Continuaremos a proteger as colônias judaicas, sem removê-las. Os palestinos vão ter eleições, talvez antes do final do ano.
Folha - E os colonos judeus?
Dayan - Eles não gostam de nenhum acordo. Vão continuar a protestar. Se quiserem viver em paz, terão a proteção do Exército israelense. Se não quiserem e provocarem, irão para a cadeia.
Folha - Seu pai foi um dos generais mais importantes de Israel. Ele tinha pontos de vista diferentes dos seus, não?
Dayan - Certamente não. Sua posição era por autonomia total e retirada dos territórios ocupados. Era contra colônias nas áreas povoadas, contra anexá-las.

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