São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Confusão à brasileira

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

A imprensa mundial abriu a semana relatando que o Brasil está entre os países mais corruptos do mundo. Entre as 41 nações pesquisadas pegamos um ``honroso" 5º lugar.
Na mesma ocasião o poder de fogo do Norte e Nordeste se manifestou em Brasília com toda a virulência. O governo federal, por força de clara pressão política, descredenciou os técnicos do Banco Central ao transformar uma intervenção bancária de rotina em uma estranhíssima estatização.
Vale a pena lembrar que na década de 80 dois dos maiores e mais tradicionais bancos de São Paulo foram liquidados pelo Banco Central por má administração. Agora, porém, vingou a filosofia de que quem não chora não mama.
E ainda dizem que São Paulo manda... Manda o quê? Só se for recados, daqueles que ninguém ouve.
Não é fácil entender esse emaranhado de marchas e contramarchas. A surpresa de ver o líder do privatismo tentando a estatização do banco baiano só foi suplantada pela manifestação dos líderes do PT a favor da sua privatização.
No passado, quem mais estatizou -incrível!- foram os governos de direita nos velhos tempos do protecionismo.
Os governantes se foram e as coisas não mudaram muito nesse campo. Até hoje tem gente achando pouco o prazo que o governo lhes deu para saldar o que devem à Previdência: 96 meses, com 50% de abatimento em relação à multa devida. Êta país generoso...
Os fatos da semana geraram um profundo desânimo entre os que ganham a vida com o suor do trabalho. Nossa imagem no exterior se abalou. Foi da Wall Street à City Londrina. Um pecado.
Quem está por trás dessa nefasta estatização? Seriam os grandes credores do banco? Isso terá de vir à tona. Que o Banco Central os revele imediatamente. O Brasil não pode continuar dando razão à profecia do general De Gaulle: ``Este país não é sério".
Além da deterioração da credibilidade interna e externa, o episódio tem um efeito devastador nos parcos recursos da nação.
Desinflacionar exige sacrifícios e não tolera favoritismos. Estes oneram a administração, encarecem os projetos, bloqueiam o crescimento e comprometem o emprego. O estrago, portanto, foi de grande espectro -econômico, social e político.
Quanto à pesquisa sobre a corrupção, a princípio pensei que nossas embaixadas e o próprio Ministério das Relações Exteriores viessem a protestar contra uma instituição que publica resultados sem revelar a metodologia.
Fatos como esse estão nos parecendo como mais uma pesquisa sórdida para denegrir o país. É de se estranhar o silêncio do nosso Itamaraty! Dizem os antigos que: ``Quem cala, consente".
Enfim, foi uma semana extremamente triste, lamentável para todos os brasileiros que ainda acreditam no país.

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