São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Honoris causa

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Não se dá chute em despacho de macumba. O senador Antônio Carlos Magalhães deve saber isso. Daí que alguns macetes já ganharam status de mito. Um deles aconselha os políticos a não botar cocar de índio na cabeça. Dá um baita azar.
Creio que mais letal do que o cocar dos índios é aquele capelo que usam lá em Coimbra para festejar os doutores honoris causa. Tancredo o usou, antes de se empossar -e acabou não se empossando. Aparentemente ele vendia saúde e energia. De repente, depois das homenagens de Coimbra, passou pelo constrangimento de usar um chapéu cinco vezes maior do que a sua cabeça. Resultou em péssima foto e péssimo agouro.
Com Fernando Henrique Cardoso a mandinga funcionou outra vez. Apesar de fazer um governo acadêmico, acaciano, sem dar bola para a realidade social, insistindo em edificar um Estado capaz de deslumbrar os belgas e os suecos, ele ia levando. A mídia, com mínimas exceções, o considerava bacana, bem-aventurado.
Bem que um sexto sentido o levou a adiar várias vezes a viagem a Portugal. Mas o destino, como naquele filme da Lana Turner e do John Garfield, bateu à porta. FHC foi a Coimbra, recebeu o chega pra lá de outro acadêmico e meteu o tal capelo na cabeça.
Não deu outra. Mal chegou de volta, esbodegado pela programação cruel que vigora nessas visitas oficiais, ele encontrou o caso Dallari, teve a meia furada na primeira página dos jornais, trombou com ACM, foi devidamente espinafrado por gregos e baianos. Chegou a tal ponto que, para apresentar alguma coisa a seu favor, teve de invocar a limpeza de sua cueca -da qual, até aquele momento, ninguém suspeitava.
Para evitar contratempos com sucessores de FHC seria prudente negociar com Portugal a abolição desse capelo fatídico. Caso não se chegue a um acordo, a solução é retaliar: o primeiro presidente português que aqui chegar será obrigado a usar um cocar de índio.

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