São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Apollo 13

LUÍS ANTÔNIO GIRON

O desejo de veracidade levou o diretor a pensar em filmar dentro de uma nave no espaço. Os produtores do filme só não o chamaram de lunático para evitar o trocadilho. Decidiram, por fim, por realizá-lo em parceria com a Nasa.
Aqui começa a segunda parte da aventura, que mereceria levar o título de "As Peripécias e Vicissitudes da Simulação". Tom Hanks (Lovell), Kevin Bacon (Swigert), 36, e Bill Paxton (Haise), 40, aceitaram virar replicantes de astronautas.

Comida péssima
Os atores viveram um mês na Nasa, em Houston, Texas, comendo a péssima comida do refeitório dos pilotos e aprendendo os macetes da profissão. A agência co-dirigiu a melhor cena do filme, a do lançamento do foguete. Da aceleração à decolagem, a máquina é captada de diversos planos. A velocidade e a justaposição de quadros remetem o espectador às antigas transmissões.
"Até nisso quisemos ser fiéis à época", comentou Howard depois das filmagens. Ele estudou os ângulos usados pelas câmaras da agência espacial nos lançamentos reais. Quando faltavam as maquetes ou as engenhocas azeitadas pela Nasa desde 1970 como itens de museu, Howard lançou mão da recriação computadorizada. É a única grande cena exterior de "Apollo 13".
O resto é a nave, a casa da família de Lovell e a central da Nasa. Ambos os ambientes são restaurados, para lembrarem os anos 60. Em algumas sequências particularmente nostálgicas, os técnicos da Nasa fumam todo o tempo, enevoando o computador que ocupa um salão. No comando, Gene Kranz, vivido pelo eterno ator-astronauta Ed Harris ("Os Eleitos", de 1983).

Como dublês
No setor réplica, "Apollo 13" traz algumas cenas que vão ficar na história do cinema como as primeiras registradas para um filme de ficção num espaço de gravidade zero. Para tanto, Howard, câmera e atores se submeteram ao avião KC-135, uma modalidade de jumbo capaz de criar ambiente sem gravidade por meio de arremetidas em parábola rumo à estratosfera.
No instante em que o avião perfaz o arco superior do trajeto e inicia o mergulho a 800 quiômetros por hora, produzem-se 23 segundos de vácuo. Howard e equipe filmaram centenas de cenas nesse curto espaço de tempo.
"Trabalhamos como dublês", conta Howard. "Tiramos o máximo entre a queda livre do aparelho e o momento em que o trajeto termina, lançando todos ao chão."
O KC-135 é usado para treinamento dos astronautas. Estes gostam tanto de voar nele que o apelidaram de "Cometa Vômito".

Náusea da vida
Imagine o que acharam os atores, que tiveram de atuar em condições tão precárias. Paxton: "Nos sentámos às vezes como se estivéssemos realmente numa missão". Bacon: "Não gostei, fiquei com medo e vomitei muito". Não adiantou a overdose de Scop-Dex, remédio antienjôo usado pelos astronautas.
Hanks, sempre entusiasmado com as filmagens, tentou evitar a droga, mas terminou se rendendo quando se viu estirado ao chão do aparelho durante horas, experimentando a náusea de sua vida.
Para completar o quadro de sacrifícios, os atores passaram realmente pelo congelamento da nave. Encapsulados numa simuladora da Nasa, quase se converteram em estalactites. Tudo porque Howard quis recobrar a "textura do fato real".
Apesar do esforço de restauração histórica, algumas diferenças ficam evidentes na comparação com as memórias de Lovell. A começar por ele próprio.
Na pele de Hanks, Lovell se torna um Forrest Gump, um patriota desmiolado. Astronauta é a cena que falta no filme mais premiado de

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