São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Apollo 13

LUÍS ANTÔNIO GIRON

1994. O Lovell de ficção é meio bobalhão. Suas duas virtudes são se segurar no banco e arregalar os olhos, exatamente como o espectador. Kevin Bacon, que faz Swigert, se parece muito mais com o Lovell original, um indivíduo rigoroso.
Hanks reflete o espectador. É o passageiro do medo e da trepidação infinita. Desperta identificação. Afinal, qual a mãe que durante o filme não sente o apelo do instinto e quer salvar o adorável Hanks do vazio do universo?
As cenas do xixi que se espalha no vácuo e da sessão de fotos durante a aproximação da Lua, mostradas no filme, fazem parte da aventura de Apollo 8. Lovell conta-as no livro. Mas Howard enxertou-as na Apollo 13. De fato, os astronautas da expedição de 1970 não sofreram problemas de esgoto e tiveram que entortar o pescoço na escotilha para mirar o satélite. Não viram a cena panorâmica exibida no filme.
Outra diferença está na frase que serve de slogan do cartaz do filme. ``Houston, temos um problema", diz Hanks à central no momento da explosão. Na verdade, a fala foi de Swigert, e teve enunciado no pretérito. O piloto da Apollo 13 gritou pelo rádio: ``Ei, tivemos um problema aqui!" Hanks, o astro, recebeu a sentença de presente.
No fim, ele faz uma exortação à volta do programa espacial. O Lovell original não se apoquenta com isso. Sua nostalgia é individualista. Queria ir à Lua e não conseguiu. A frustração se sublimou em texto. Nem fala da guerra do Vietnã.
Tampouco o filme, embora Vietnã talvez tenha sido o motivo maior para o olvido público da missão. Na época, Vietnã enchia a cabeça dos americanos. Apagar da mente Apolo 13 e as três subsequentes missões foi natural.

Prêmio de consolação
Para desespero de Lovell, a cordilheira Fra Mauro seria atingida pela Apollo 14. Mas o memorialista ganha mais um prêmio de consolação. Se hoje todo mundo o conhece, ninguém se lembra de Alan Shepard e Stuart Roosa, heróis que chegaram lá nove meses depois da Apollo 13.
A intenção cívica do filme é compemsada pela eficácia dos diálogos e rapidez das sequências. Hollywood poucas vezes explorou o assunto astronauta com tanto tesão. O programa espacial pode não voltar à ativa, mas pelo menos um filme lhe deu a merecida escala heróica -"Apollo 13", a epopéia da clausura e da derrota.

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