São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Astro queria ir à Lua

ANA MARIA BAHIANA

Com seu novo filme, "Apollo13", Tom Hanks conseguiu um feito duplo: realizar um sonho de infância (leia a entrevista a seguir) e emplacar o terceiro sucesso seguido de uma carreira que, desde 1993, parece composta só de triunfos -Oscar de melhor ator por "Filadélfia", seguido por outro Oscar e mais de US$ 200 milhões de bilheteria por "Forrest Gump", o Contador de Histórias. Com um mês apenas nas telas americanas, "Apollo 13"- a versão dramática, mas com muito pouco de ficção, da missão espacial que, em 1970, quase matou seus três astronautas -já é a segunda maior bilheteria do ano, nos Estados Unidos e, muita gente em Hollywood garante, deve render a Tom pelo menos mais uma indicação para o Oscar. Muito apropriadamente, Tom conversou com a Revista da Folha à mesa do café da manhã -café, salada de frutas- no centro espacial da Nasa em Houston, Texas.

Qual a melhor parte de ser um astronauta de mentira, na tela?
Usar aquele uniforme cheio de emblemas. Eu sempre quis usar um macacão de astronauta, essa foi a realização do meu sonho. Minha mulher, Rita, vivia me gozando: Olhe para você, Tom, que papel! E ela tinha razão: enquanto os outros atores apareciam para trabalhar em jeans e camisetas, eu já vinha com o meu macacão cheio de insígnias. Eu me sentia o máximo.
E a pior parte?
Eu ia dizer o treinamento e as filmagens em gravidade zero, mas na verdade foi só no início. O pior, mesmo, é o medo: o medo do desconhecido, o medo de ficar enjoado. Nas primeiras vezes, todos nós estávamos imóveis, amarrados em nossas cadeiras, apavorados. Mas depois que eu estava acostumado, os 25 segundos de gravidade zero eram incríveis. A parte ruim era justamente quando a sensação acabava, porque a gente caía com toda força por cima de seja lá o que for que estava embaixo. Muitas vezes isso não era nada agradável.
Por que você é tão ligado em astronautas e no programa espacial?
Eu estava na idade certa quando o programa espacial estava no auge: eu tinha 11, 12 anos quando o homem chegou à Lua. O programa espacial fazia parte do nosso currículo de geografia e história, na escola. Os astronautas eram nossos heróis. Eles representavam o outro lado da América, que não tinha ligação com a guerra do Vietnã. Não faziam mal a ninguém e estavam arriscando suas vidas para conseguir algo para toda a humanidade. Os astronautas eram a melhor parte da América, e eu os adorava. Eu sabia tudo sobre o programa espacial, quem estava em cada missão, os nomes, as idades, todos os detalhes. Teve um momento da minha vida em que meu maior sonho era ser astronauta.
Tendo que lidar com astronautas de verdade no trabalho de preparação para "Apollo 13, você se decepcionou com o que descobriu?
Não, não! Mas fiquei surpreso. Aprendi muita coisa nova. A imagem que eu tinha, que muita gente ainda tem, dos astronautas, é de uns sujeitos durões, queixudos, com pinta de cowboys. Eu cheguei até a ficar preocupado, falei com Ron (o diretor Ron Howard): será que as pessoas vão acreditar em mim como astronauta? Porque achei que eu não tinha o físico adequado. Mas, na verdade, já nessa etapa do programa espacial os astronautas eram sobretudo cientistas: geólogos, físicos. Doutores que tinham em comum esse fascínio com o espaço e queriam explorar a Lua - o que, imagino, já os distinguia um pouco das outras pessoas. Aí é que eu vi porque eles foram à Lua e eu nunca irei: não é por falta de preparo físico, é por falta de matemática!
Você não acha que, hoje, você é tão famoso quantos os astronautas eram no seu tempo de menino? É uma sensação estranha?
Bom, não sei. Sei que "Forrest Gump, o Contador de Histórias" tomou uma velocidade e um impulso além das expectativas de todo mundo, inclusive das minhas. E fiquei feliz de ter escolhido esse papel antes dessa loucura toda. A fama é uma coisa estranha. Chega um ponto em que você se sente como Sir Edmund Hillary: respirando um ar muito rarificado, sem oxigênio, no alto do monte Everest. Mas até Sir Edmund Hillary teve que descer de lá para ir ao dentista. E eu não sou diferente.
Qual conquista da ciência moderna que você considera mais preciosa?
A câmera fotográfica que reenrola o filme sozinha e o controle remoto. É brincadeira, é claro. Não sou um sujeito técnico, mas acho que deve ser o chip de silicone.

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