São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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Como o conhaque, o craque da multidão

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Atravessamos um grande momento do futebol brasileiro!
Parece que até o seu Zagallo (desde que tirou aquela touca que o protegia do frio do Uruguai) anda com a cabeça mais arejada, arriscando um pouco mais. Mas, quando nos referimos ao futebol brasileiro, é bom deixar bem claro que estamos falando única e exclusivamente do surgimento de novos e talentosos craques.
Nem bem acabamos de ganhar a Copa, já podemos montar duas ou mais seleções diferentes e, quem sabe, até melhores do que aquela que não perdeu em Rose Bowl.
É o permanente estado de renovação que proporciona essa situação tão cômoda e promissora. Talvez estejamos repetindo o modelo darwiniano de sobrevivência das espécies, uma adaptação ao modelo predatório com que são elaboradas as tabelas e os campeonatos do país.
É preciso, jogando até três vezes por semana, que haja uma reposição rápida e eficiente para que essa espécie de esportista -o jogador de futebol- não entre em extinção.
Essa maratona de jogos, somada aos gramados ruins e à má qualidade de arbitragens -que não pune a violência com rigor-, pode abreviar a carreira do jogador.
Bem, mas o futebol não pode parar e, aos trancos e barrancos, vamos para mais um insano Brasileiro, que promete se equiparar ao Paulista no que diz respeito à falta de emoção. Vamos assistir, sem dúvida, a um desfile de craques conhecidos e certamente teremos surpresas.
Mas há um jogador que nos preocupa um bocado, pois somos seus grandes admiradores.
Quando seu futebol despontou, houve uma grande expectativa quanto a seu promissor futuro. Com seu toque refinado e veloz, chutes colocados com precisão e malícia, a bola alçada com rara e sutil inteligência, ele comandou seu time em várias conquistas e vitórias.
Desse modo, chegou, naturalmente, à seleção brasileira. Paradoxalmente, o que significaria o ápice de sua carreira -a chegada à seleção- foi um ponto de descendência na curva de seu futebol. O comportamento desastrado do então técnico do selecionado, o sr. Carlos Alberto Parreira, e o calendário desumano que foi imposto a seu clube acabaram desaguando num pênalti desperdiçado, que o marcou profundamente perante a torcida.
Mas o fato é que esse grande personagem não pode ter esquecido como jogar seu futebol inconfundível. Da mesma maneira que jamais se esquece como pedalar uma bicicleta, é impossível ter desaprendido aquilo que só uns poucos sabem. Nos jogos de seu time, convive com a impaciência de sua torcida, pouco disposta a acreditar no seu grande valor como jogador e na sua capacidade de reencontrar seu grande talento.
Bobagens típicas de quem deixou a praticidade suplantar a plasticidade.
Nós, românticos do futebol, fazemos questão de dar o nosso apoio a esse grande jogador, seja qual for a camisa que ele venha a vestir. Assim como o conhaque, tomara que ele possa ser, de agora em diante, um jogador para todos. Palhinha, o craque das multidões.

Marcelo Fromer e Nando Reis são músicos da banda Titãs

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