São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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Livro vê centenário sob ótica gaúcha

'Cinema no RS' reúne 20 ensaios

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO

O fomento das pesquisas sobre as histórias locais e regionais da recepção e produção de cinema tem promovido muito dos trabalhos mais interessantes deste centenário. Toda a celebração na Grã-Bretanha e parte na França privilegia este enfoque. No Brasil, os gaúchos largam na frente com a publicação de ``Cinema no Rio Grande do Sul" (Cadernos Porto & Vírgula, Secretaria Municipal da Cultura - UFRS - Unidade Editorial, 135 págs., R$ 7, pedidos pelo tel. 051/221-6622).
Vinte ensaios dos mais importantes críticos, pesquisadores e realizadores do RS sintetizam a história do cinema gaúcho. O organizador é Tuio Becker, crítico do diário ``Zero Hora". Jamais tanta reflexão crítica sobre essa cinematografia fôra reunida.
Aprende-se quase com cada página deste denso volume. Como afirma Becker na introdução, ``os textos descrevem a trajetória de uma cinematografia que se destaca através da explosão de ciclos, mas que sobrevive, em seus tempos de maior precariedade, por meio de bitolas alternativas".
A seguir, Antonio Jesus Pfeil condensa suas várias décadas de pesquisa num texto que nasce clássico, ``Cinematógrafo e o cinema dos pioneiros", que em dez páginas revela o essencial da chegada do cinema ao RS. Pfeil lembra o sucesso dos espetáculos pré-cinematográficos como lanternas mágicas e Panoramas. Surpreende ao precisar que as primeiras projeções locais de cinema se deram menos de um ano depois da estréia parisiense do cinematógrafo Lumière.
Os pioneiros das ``vistas animadas" também no Rio e em São Paulo, respectivamente Francisco de Paola e George Rénouleau, batizam Porto Alegre no cinema com dias de diferença (4 e 7 de novembro de 1896). Apenas oito anos depois os irmãos Fellipi realizariam as primeiras filmagens no Estado. O nascimento da forte tradição gaúcha de cinejornais, o ciclo de Pelotas, a importância de pioneiros como Eduardo Abelim e Italo Manjeroni, o impacto do som, tudo está no ensaio.
Há muito mais. Uma original releitura crítica do clássico ``Vento Norte" de Salomão Scliar (1951) é assinada por Glênio Póvoas. E João Carlos Massarolo fala da contribuição gaúcha para a ``primavera do curta" nos anos 80, com ``Ilha das Flores" de Jorge Furtado assumindo o merecido posto de filme-síntese.
Antes mesmo de merecer um ensaio específico, paira por todo o volume a sombra do mais importante crítico e animador de cinema do RS: Paulo Fontoura Gastal, P.F. Gastal, uma espécie de André Bazin dos pampas, influência maior sobre mais de quatro gerações. Fragilizado pela idade, Gastal não pôde prestigiar em Gramado o lançamento desta crônica do cinema gaúcho que muito lhe deve. Uma visão panorâmica sobre sua vida e obra seria uma justa sequência para esta bela antologia.

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