São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
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As auditorias e o Econômico

LUÍS NASSIF

Teoricamente, o correntista que perdeu dinheiro no Banco Econômico poderia ingressar hoje mesmo com um processo contra a empresa de auditoria Ernest Young. Ela era incumbida de auditar o balanço do banco, principal instrumento com o qual contavam correntistas e investidores para avaliar o risco de suas aplicações. Pelo balanço, o Econômico morreu em perfeito estado de saúde.
Não é de hoje que existe essa relação incestuosa entre instituições podres e empresas de auditoria complacentes.
Analisando esse histórico, o leitor José Pio Martins, de Curitiba, diretor financeiro de uma empresa auditada pela própria Ernest Young, tem uma série de observações relevantes sobre o assunto.
Pela legislação em vigor, as empresas de auditoria são contratadas pelo Conselho de Administração do banco -no qual se reúnem os principais acionistas. Ocorre que a maioria dos bancos brasileiros pertence a famílias, não a acionistas com interesses distintos dos controladores.
O conselho tem o poder não só de reduzir o custo das auditorias (assinando contratos com número de horas insuficiente para uma fiscalização adequada) como o de rescindir contratos. Como não há nenhuma punição rigorosa às auditorias malfeitas, há uma enorme tendência à contemporização, para conservar o freguês.
O leitor sugere que o poder de indicar auditorias para bancos passe para o Banco Central, que selecionaria grupos de auditorias e procederia a um revezamento bianual, para impedir acertos e conchavos. Deve haver alternativas melhores.

Responsabilidades
A segunda sugestão é responsabilizar efetivamente a empresa de auditoria pelos balanços que assina e exigir informações mais precisas para a avaliação de risco da companhia.
Ao lado do balanço contábil, a empresa de auditoria deveria preparar um balanço fiscal e um gerencial, no qual analisasse os índices de capitalização, concentração e qualidade do crédito, exposição ao redesconto etc.
Outro ponto relevante é mudar a relação entre recursos de terceiros e recursos próprios. O Banco Econômico apresentava patrimônio líquido de US$ 700 milhões. A maior parte desse patrimônio é imobilizada, representada por agências, softwares etc. A maioria dos bancos empresta para o público só recursos de terceiros. Há a necessidade de que o banco mantenha base de capital próprio, que sirva de estoque regulador.
Maquiavel do teletipo
A defesa enfática que o presidente da República fez dos juros na coletiva de ontem demonstra que, até agora, todas as suas declarações sobre a matéria não passavam de reflexos do mesmo estilo mostrado no caso Econômico -de dizer A pensando B. Esse estilo sibilino funcionava com Vargas, na era do telégrafo sem fio. Não na era da comunicação instantânea.
No almoço que teve no domingo com seu sogro Fernando Henrique Cardoso, aliás, é bem provável que o secretário de Energia de São Paulo, David Zylbersztajn, não se tenha referido aos efeitos dos juros sobre a Cesp (para uma receita prevista de US$ 1,8 bilhão este ano, a empresa deverá pagar US$ 1,2 bilhão de juros). Senão, o presidente teria aprendido que o maior prejudicado com essa maluquice monetária é o próprio setor público -o mais endividado do país e que caberia a ele defender.

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