São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
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Filme de estreante vai a Veneza e NY

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um filme brasileiro de diretor estreante vai aos próximos festivais de Veneza (30 de agosto a 10 de setembro) e Nova York (28 de setembro a 15 de outubro). Em ambos participa de mostras não-competitivas.
O longa-metragem tem o insólito título ``Dezesseis Zero Sessenta" e foi dirigido por Vinicius Mainardi, 38, filho do publicitário Enio Mainardi e irmão do escritor Diogo Mainardi.
Rodado inteiramente em preto-e-branco, o filme é ``uma fábula tragicômica sobre a maldade humana", na definição do diretor. Seu título se refere à idade do protagonista (44 anos), contada em número de dias.
A história -escrita a quatro mãos pelos irmãos Vinicius e Diogo, a partir de um argumento deste último- é original e engenhosa.
Um empresário (Antonio Caloni) pega em flagrante um ladrão em sua casa e o entrega à polícia. O ladrão jura vingança contra o empresário e sua família.
O empresário manda matar o ladrão na cadeia, mas matam o preso errado, e a viúva deste (Marcélia Cartaxo) é chamada pelo empresário, que lhe oferece dinheiro. Um dos filhos da mulher desmaia na cozinha do ricaço e a família favelada fica morando na mansão até o garoto, doente, se recuperar, o que gera uma situação absurda e incidentes desconcertantes.
Essa farsa de humor nigérrimo é narrada sem nenhum sentimentalismo, mas também sem nenhuma paixão.
Ao olhar gélido que o filme lança às contradições sociais e baixezas humanas corresponde uma imagem igualmente gélida e estilizada, feita de ambientes absolutamente ``clean" e iluminação expressionista.
O resultado é um filme com a crueldade genial de um Buñuel filmado com a assepsia de um fotógrafo de publicidade.

Tirania dos fracos
Vinicius Mainardi disse à Folha que o escritor americano Gore Vidal viu o filme numa sessão privada e gostou muito, destacando sobretudo o modo como mostra ``a horrível tirania dos fracos".
Fracos ou fortes, todos são tirânicos no universo sem moral de ``Dezesseis Zero Sessenta", até mesmo a mulher do empresário (Maitê Proença), que se afeiçoa pelo filho menor da favelada, um ladrãozinho sem conserto.
O diretor não revela quanto gastou no filme: ``Falarei sobre isso no momento oportuno, para ensejar uma discussão mais séria sobre o assunto".
O filme foi rodado inteiramente em planos-sequências (cenas inteiras sem cortes) em cinco semanas no fim de 94 e início de 95. Os cenários foram construídos em três galpões em Aricanduva (zona leste de São Paulo).
Vinicius Mainardi diz que as maiores influências sobre seu trabalho foram os diretores Jean-Luc Godard e Orson Welles, que ele homenageia com referências ao longo do filme.
Antes de realizar seu longa, Vinicius, que morou em Roma durante quatro anos, dirigiu cerca de 250 comerciais de TV. Seu próximo projeto é filmar um capítulo do próximo livro de seu irmão Diogo, ``O Polígono das Secas".

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