São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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Choramingas

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique, em processo acelerado de esfriamento da cobertura, ``entrega o prêmio Jovem Cientista, que teve como tema este ano a qualidade e a produtividade na construção civil".
O prêmio é uma promoção da Fundação Roberto Marinho, da Globo, mas quem deu atenção ao acontecimento foi mesmo a Voz do Brasil.
Quem deu atenção à Voz do Brasil ficou sabendo que ``durante a solenidade o presidente falou do potencial das empresas brasileiras".
Outra vez, lembrou saudoso, em discurso, dos seus tempos de Itamaraty:
- No Japão, quando eu era chanceler, me disseram que depois do Japão o Brasil era o país onde o movimento (por qualidade) mais crescera. E nós aqui choramingando. Aqui choramingando, e lá fora já estavam começando a reconhecer que esta é uma sociedade que está se renovando. Não é o governo. Nós apenas ajudamos o quanto podemos. É o país que está se renovando.
Mas nada parece estar dando certo para o presidente, até quando muda de assunto.
Enquanto ele falava do potencial das empresas brasileiras, contra aqueles que ficam choramingando, começaram as manchetes da televisão:
- A indústria paulista demitiu 72 mil trabalhadores nos últimos três meses.
- A indústria têxtil demitiu 80 mil por causa da concorrência dos importados.
- As montadoras confirmam a demissão de quase 2.000 empregados.
- Os metalúrgicos da GM entram em greve para protestar contra as demissões.
Estão choramingando.

Prioridade
Dias atrás, Marcello Alencar dizia na Manchete que já não é perguntado sobre violência, ``prioritariamente". Mudou a prioridade na cobertura.
Mudou, mas foi por boa vontade. A realidade não mudou, ou mudou, segundo a TVE, a emissora fluminense, que insiste no problema:
- Cresce o número de crianças mortas no Rio por causa da violência urbana.
- Nada mata mais crianças do que a violência urbana.
- No primeiro trimestre os óbitos ultrapassaram os 200, número que inclui até crianças de um a quatro anos.

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