São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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Morosidade perigosa

ANDRÉ LAHÓZ

O caso do Banco Econômico, que dominou o noticiário nos últimos dias, evidenciou a enorme dificuldade que o governo FHC tem de encontrar soluções rápidas para os problemas que vão surgindo.
O resultado é que, qualquer que seja a solução para o banco, o governo sai do episódio pior do que entrou.
A intervenção do banco foi decretada na sexta-feira, dia 11. A partir daí, o senador Antônio Carlos Magalhães assumiu a cena.
ACM vendeu a todos uma solução para o caso: a estatização do Econômico. Segundo ele, tudo havia sido acertado com o presidente FHC.
O Executivo permaneceu inerte. Foram quase dois dias para que surgisse uma nova versão, desta vez a do governo. Entre uma e outra, uma diferença de R$ 1,8 bilhão a ser paga à União.
Nesse período, houve violenta troca de acusações entre o Banco Central e a bancada baiana, rumores de demissão de parte da equipe econômica, indagações sobre a possibilidade de outros bancos estarem em situação de dificuldade, péssima repercussão nos meios de comunicação etc.
Pode ser que o presidente tenha voltado atrás após ter acertado a negociação com ACM. Pode ser também que o senador tenha inventado a sua versão.
Seja como for, é inadmissível que o governo deixe a crise crescer por tanto tempo sem fazer nada para resolvê-la.
O episódio lembra bastante a outra grande crise do governo FHC: a mudança da política cambial, em março.
O péssimo manejo da introdução do sistema de bandas começou em uma segunda-feira. Depois de vários desmentidos e leilões de dólares, a situação foi se acalmar na sexta-feira, após quatro dias de pânico no mercado financeiro.
O saldo foi a redução em US$ 6 bilhões nas reservas internacionais e uma explosão nas taxas de juros. Mais tarde, o então presidente do BC, Pérsio Arida, deixaria o governo, certamente como reflexo do episódio.
Crises são normais, ainda mais em um país como o Brasil. Daí a necessidade de uma equipe afinada e ágil.
A comparação com a Argentina evidencia a incompetência do governo brasileiro. Os argentinos estão com problemas (inclusive bancários) muito maiores do que os brasileiros.
No entanto, apresentam uma espantosa capacidade de lidar com essa situação adversa. O ministro Cavallo é extremamente ágil para apagar incêndios.
É claro que a situação política dos dois países é diferente. O presidente Menem tem um poder muito superior ao de FHC, pelo menos até agora (a crise econômica argentina certamente está corroendo este poder). Menem tem o Congresso nas mãos há anos.
Mas parte do problema se explica por características próprias de FHC e da sua equipe econômica.
Fernando Henrique tem o hábito de conciliar sempre. Não quer comprar briga (com a exceção do caso dos petroleiros, no qual o governo decidiu não ceder) e acaba valorizando seus adversários.
Outro problema é a atual divisão da equipe econômica. Ao contrário da Argentina, o Brasil tem dois ministros fortes na área econômica. Nos momentos de crise, essa divisão se acentua e complica a situação.
O governo faria bem em tirar alguma lição do caso Econômico. Afinal, é evidente que outras crises virão pela frente.

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