São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995 |
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`A torcida substitui o Estado'
PAULO SERDAN
Não é de estranhar que, em uma final, trabalhe um número de policiais que pode ser contado nos dedos? Que só cinco policiais separem as torcidas? Que um estádio receba no mesmo dia dois jogos envolvendo três grandes torcidas? Que no ambulatório do estádio não haja médicos, só enfermeiros? Há culpados? Sim. Mas nossa obrigação é evitar, pois, depois que acontece, é muito difícil encontrar quem começou. Nenhuma torcida é criada com fins paramilitares. Na verdade, ela tem substituído o Estado em várias situações. Qual é a diversão da maioria dos jovens em seus bairros? Nenhuma. Os campos de várzea estão infestados por times bancados por traficantes. Quem não faz parte do submundo não tem direito à prática do esporte. Nas escolas, a criançada aprende a enrolar um baseado, a cheirar cocaína e a fazer um cachimbo de crack. A Mancha procura ajudar instituições filantrópicas. Além disso, dá um plano de assistência médica aos associados. Aí está o porquê de tanto amor mostrado pelos sócios. Eles lutam por algo que realmente pertence a eles. A sociedade está revoltada com razão, mas é difícil explicar o que acontece nos corações. É muito amor pelo clube. Sentimento que governantes corruptos fizeram esses jovens perder pelo país. Se acabarem com as torcidas uniformizadas, seremos mais de 80 mil jovens sem ter no que acreditar. Texto Anterior: Polícia identifica `baderneiros' e planeja arrastão nas organizadas Próximo Texto: Líderes de organizadas têm aulas com PMs Índice |
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