São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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Indústria da infovia quer evitar `ilhas do saber'

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

O alarme soou quando uma pesquisa do censo norte-americano constatou o que parecia óbvio: enquanto 43% dos brancos norte-americanos têm um computador em casa, só 16% dos negros e 15% dos hispânicos daqui já entraram na era da informática.
A disparidade é maior na relação entre salário e afinidade com o ciberespaço: 74% das famílias com renda superior a US$ 6.000 mensais têm pelo menos um computador doméstico; só 15% dos que faturam menos de US$ 1.600 por mês podem dizer o mesmo.
Se a informação é hoje uma moeda tão valiosa quanto o dólar, não é preciso ser sociólogo para descobrir que do jeito que as coisas andam a corda vai arrebentar para o lado dos mais fracos. De novo.
Como se precisasse dessa vantagem, a classe média branca norte-americana vai ficar com as melhores oportunidades em um mercado de trabalho que exige cada vez mais intimidade com o microcomputador.
A diferença entre quem tem e quem não tem tende a aumentar. Hoje em dia, aponta outra pesquisa, em um emprego similar, os cibernautas ganham em média 15% a mais do que os analfabetos em computação.
Tem gente que acha essa discussão uma bobagem, argumentando que o problema da sociedade norte-americana não é de distribuição de computador, mas de renda.
Lembram que usar as máquinas está ficando tão fácil que qualquer um, independentemente de origem, pode ser rapidamente treinado para desempenhar funções que exijam conhecimento na área.
Os alarmistas contra-atacam, alegando que o computador tende a reforçar as diferenças sociais. Enquanto o menino bem-criado de Manhattan aciona na Internet o centro de pesquisas de Harvard para fazer seu trabalho de escola, o do Bronx terá que se contentar com a biblioteca local.
Essa turma defende a interferência do governo para compensar a disparidade, por intermédio de investimento nos laboratórios de informática das escolas públicas.
A mesma pesquisa do censo mostra que a situação nessas escolas públicas é menos dramática. Enquanto 62% dos brancos usam microcomputador nas salas de aula, 52% dos negros e hispânicos podem fazer o mesmo.
Mas esses números escondem um pouco a realidade. Enquanto nas escolas da elite, a molecada ``brinca" em microcomputadores velozes como um 486DX2 de 66 MHz, nos bolsões de pobreza, o aprendizado muitas vezes é feito em microcomputadores muito lentos, tocando programas ultrapassados.
Além disso, só quem tem computador com modem -dispositivo que conecta o micro à linha telefônica- pode tirar proveito das redes on line. Além de pagar a conta telefônica, gastam-se pelo menos US$ 20 mensais de assinatura.
Daí surgiram algumas experiências que enfatizam o uso social do computador. Aqui em Nova York, a United Community Organization acaba de completar a instalação de 200 terminais em bairros de baixa renda para que os moradores possam frequentar a Internet, trocar correspondência eletrônica e realizar tarefas simples como a de digitar e imprimir trabalhos escolares. O custo foi bancado pelo governo e por doações de empresas privadas.
No futuro, estima-se que os domicílios norte-americanos serão interligados pela chamada supervia da informação, uma rede em fibra óptica que permitirá o tráfego de dados em vídeo e áudio.
As companhias que planejam e pretendem executar o projeto estão sob pressão para evitar que se criem ``ilhas do saber", garantindo que o tal menino do Bronx tenha tanta oportunidade no ciberespaço quanto o almofadinha de Manhattan.

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