São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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Os descamisados

Fingindo que age celeremente para solucionar a questão da violência nos estádios, a Federação Paulista de Futebol propõe ``desuniformizar" as torcidas. Soa como varrer o pó para baixo do tapete.
É evidente que a violência não ocorre por um misterioso processo osmótico entre a camisa e a pele do torcedor. É bem verdade que, numa guerra, o uniforme ajuda a identificar o adversário, mas não é abolindo uniformes que se acaba com as guerras. Mesmo na Bósnia, onde muitos combates são travados por milicianos sem identificação em suas vestes, as partes inimigas sabem identificar-se e matar-se.
A questão da barbárie nos estádios não é um problema exclusivo do Brasil. Na Europa os ``hooligans" incomodam já há muito as autoridades policiais. Diante disso, fica mais difícil a costumeira saída de atribuir as terríveis cenas de domingo à miséria e à falta de educação do brasileiro, embora esses fatores contribuam para o fenômeno.
A questão parece estar ligada ao comportamento das massas. Vontades individuais, quando voltadas para um objetivo comum, tendem a anular-se para formar um todo, o que lhes dá uma sensação de onipotência. Foi um fenômeno como esse que permitiu que o culto povo alemão aderisse à sanha nazista.
O Brasil, felizmente, ainda está longe desse estágio. A violência nos estádios é antes uma questão de polícia e como tal deve ser tratada. Ajudaria também um pouco de bom senso dos organizadores, o que inclui um mínimo de inteligência para não realizar uma partida no meio de um paiol.

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