São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
Próximo Texto | Índice

Pesquisa revê início do cinema no Brasil

Primeiras filmagens são de 1897, afirmam pesquisadores

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Pesquisadores do Rio afirmam ter encontrado evidências de que o cinema brasileiro nasceu um ano antes da data considerada oficial por vários historiadores. De acordo com Jorge Vittório Capellaro, 73, as primeiras filmagens no Brasil foram feitas em 1897 e não em 1898. O cinema brasileiro seria então apenas dois anos mais novo que o mundial, que, em 1995, completa 100 anos.
Capellaro afirma que ele e Paulo Roberto Ferreira (o outro pesquisador) localizaram o que seriam as certidões de nascimento do cinema brasileiro: anúncios publicados, nos dias 1º e 6 de maio de 1897, no jornal ``Gazeta de Petrópolis".
Os anúncios convocam para sessões de ``cinematographo" no Cassino Fluminense, que funcionava em Petrópolis, cidade serrana a 66 km do Rio.
A programação do dia 6 de maio incluía 22 filmes curtos, entre eles, três com títulos que indicavam a realização de filmagens no Brasil.
Os filmes são ``Chegada do Trem em Petropolis", ``Bailado de Creanças no Collegio, no Andarahy" e ``Ponto Terminal da Linha dos Bonds de Botafogo, Vendo-se os Passageiros Subir e Descer". Andaraí e Botafogo são bairros do Rio.
Para Capellaro, haveria um quarto filme brasileiro no pacote: ``Uma Artista Trabalhando no Trapézio do Polytheama", exibido no dia 1º. Segundo ele, Polytheama era um teatro então existente em São Paulo. O anúncio da sessão do dia 6 suprimiu a palavra ``Polytheama" do título do filme.
A programação incluía também filmes cujos títulos faziam referências a cidades e países estrangeiros, como ``Boulevard des Italiens en Paris" e ``Uma Decapitação Praticada pelos Inquisidores na Hespanha".
Segundo ele, essas citações foram ``reticentes" e baseadas em artigo publicado, em 1944, no jornal ``A Tribuna de Petrópolis".
Em capítulo de sua ``A História do Cinema Brasileiro" publicado, em maio de 1956, no número 40 do ``Jornal de Cinema" (revista dirigida por Alex Viany), Gonzaga citava que o artigo reproduzia o programa de uma sessão do Cassino Fluminense. No programa, havia referências aos filmes que mostravam o trem de Petrópolis e o baile no Andaraí.
Jornalista, cineasta e produtor de cinema, Gonzaga levanta dúvidas quanto ao fato de as cenas terem sido filmadas no Brasil. ``Que provas temos disso, fora os títulos?", pergunta.
Responder a essa pergunta transformou-se na obsessão de Capellaro.
O primeiro passo foi localizar o jornal em que o anúncio foi publicado: descobriram que tinha sido na ``Gazeta". De quebra, localizaram um segundo anúncio, do dia 6 (apenas nesse há referência ao filme dos bondes de Botafogo).
Capellaro diz que, após diversas pesquisas, concluiu que não houve fraude.
Isso, apesar de não ter encontrado, nos jornais da cidade, quaisquer outras informações sobre as sessões de ``cinematographo" -apenas uma nota que registrava a presença, na segunda sessão, de representantes do governo brasileiro e de oficiais da Marinha chilena.
Para chegar a essa conclusão ele afirma ter comparado fotos do trem que subia a serra de Petrópolis com outras, que mostravam composições de outros países onde já havia atividade cinematográfica. Segundo ele, não havia qualquer semelhança entre os trens. O mesmo método foi utilizado em relação aos bondes que chegavam a Botafogo.
Em relação ao baile, ele afirma ter constatado que, no Andaraí, havia, à época, colégios que promoviam bailes noticiados pelos jornais.
Capellaro reforça o resultado de sua pesquisa com outro argumento: a população de Petrópolis era formada, principalmente, por famílias ricas do Rio que tinham casas na serra.
Seriam, portanto, pessoas de boa educação e de razoável condição financeira: para o pesquisador, elas não seriam enganadas, até porque conheciam bem o trem e a estação de Petrópolis e, possivelmente, os bondes de Botafogo (o bairro preferido pela elite carioca naquele final de século).
A presença das autoridades brasileiras e chilenas é citada como outra prova pelo pesquisador. Para ele, o exibidor não ousaria cometer uma fraude diante dessas pessoas.
Resolvido o problema da data de exibição dos primeiros filmes brasileiros, sobrou um outro: Capellaro afirma que não conseguiu chegar aos os nomes de seus autores.
O anúncio diz apenas que as exibições foram feitas pela empresa Victor de Maio.

Próximo Texto: Para estudioso, 1º filme oficial não foi projetado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.