São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995
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Juiz manda prender líderes de Corumbiara

GEORGE ALONSO
ENVIADO ESPECIAL A VILHENA (RO)

A polícia de Rondônia caça, sem sucesso, seis líderes dos sem-terra de Rondônia. Dois deles participaram da invasão da fazenda Santa Elina, em Curumbiara. A desocupação dessa área, no último dia 9, resultou na morte de nove sem-terra e dois policiais.
A ordem foi expedida por Glodner Pauletto, juiz de Colorado D'Oeste, com base no processo aberto por conta da invasão de uma fazenda vizinha, onde hoje está o Assentamento Adriana.

Pretexto
Líderes do movimento dizem que o juiz está usando de um recurso para poder punir as pessoas envolvidas com a invasão de Corumbiara.
Participaram das duas invasões Adelino Ramos, o ``Buriti", pai de Claudemir Ramos, o ``Pantera", que chegou a vender um terreno que tinha no Adriana, e Sebatião Pereira, o ``Quebra-Molas", que já está detido.
Entre os procurados estão Lenilson Zanol (``Nego"), Vicente Garcia da Rocha (``Jequinho") e Devair Pinto de Oliveira e Joaquim Perez.
``Eles estão querendo prender pessoas do assentamento Adriana, que não têm nada a ver com isso", disse Cícero Ferreira Neto, 37, o ``Topa-Tudo".
``Topa-Tudo", que não está entre os procurados, conversou com a Folha em local previamente combinado, com uso de senhas para identificação. ``Esse aqui é o meu gabinete presidencial", diz, ironicamente, abrigado em um quarto de uma casa da região.

``Burocrático"
Ao comentar a prisão preventiva, ``Topa-Tudo" pergunta: ``Por que não fazem isso com os policiais que mataram nove sem-terra?".
Casado, pais de três filhos, ele conta que o movimento de Corumbiara começou a ser preparado no fim de abril por um grupo de dissidentes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST).
``Topa-Tudo" resume a diferença entre os atuais líderes do MST e os idealizadores da ocupação da Santa Elina. ``Terra se conquista ocupando. Como? Com muita gente e resistindo", diz.
Segundo ele, o MST e a Fetagro (Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia) partiram para uma postura legalista e ``burocrática", que não vai resultar em terras.
``A Fetagro, até hoje, em três anos, só conseguiu fazer dois acampamentos", critica.

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