São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995
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Mundo pode se acabar com tela da Microsoft

MARCELO PAIVA
COLUNISTA DA FOLHA

Saiu o Windows 95 e tudo continua na mesma. Dizia-se que era o lançamento da década. Só se falava nisso: em jornais, revistas e TVs, filas de banco, banheiros e pizzarias. Os poucos "privilegiados que tiveram acesso ao programa antes do público eram tratados como celebridades.
Sentiam-se anjos de trombeta, enviados de Deus; os melhores amigos de Bill Gates. É o todo-poderoso da Microsoft. O homem mais rico do mundo tem a cara do Juca Chaves, usa uns óculos que lhe dão um ar abestalhado e, aposto 95 dólares, usa peruca.
Na verdade, assistimos à maior campanha publicitária da década. Tiro o chapéu para os responsáveis pela conta da Microsoft.
Desde o começo, da escolha dos "privilegiados" que teriam acesso antes do público aos acordos com lojas que fariam demonstrações; dos boatos de que a Microsoft entraria na Internet e compraria a CNN -a rede Turner de TV- aos milhões oferecidos aos Rolling Stones (pela música ``Start me Up"). Sem falar no preço: 95 doletas, não é lindo?
Não é coincidência. É business. A piada que rola é que o lançamento do Windows 95 é patrocinado pelo Windows 96.
Outra piada que rola. Deus, querendo umas férias, convida um representante de cada país com a missão de anunciar a cada povo o dia do Juízo Final. Fidel foi o escolhido de Cuba.
Fidel, ao pousar em Havana, fez um discurso, desses que duram horas: "Tenho duas notícias horríveis para dar. Primeiro, Deus realmente existe. Segundo, o mundo vai acabar".
O Papa foi o escolhido da Itália que, ao voltar, discursou da sacada do Vaticano: "Tenho uma notícia boa e outra ruim. A boa é que Deus existe. A ruim é que o mundo irá se acabar".
O representante americano foi Bill Gates, que correu por Seattle, sede da Microsoft, chamou os seus empregados, e anunciou: "Gente, gente, tenho duas ótimas notícias para dar. Primeiro, Deus me reconheceu como o grande líder americano. Segundo, ele não disse, mas acho que quer que eu crie um programa para o fim do mundo".
O que Bill Gates também poderia ter dito aos seus empregados é que não precisavam mais se preocupar em desvendar os possíveis "bugs" do novo Windows (Bruce Brown, editor da revista "BugNet", encontrou 11 problemas só na instalação do novo programa) ou porque ele chupara a Apple (o novo Windows é cópia descarada do programa que há anos roda nos Macs): o mundo vai se acabar mesmo. É, de pau...

MARCELO RUBENS PAIVA está nos EUA a convite da Universidade de Stanford.

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