São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995 |
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Dinamarquês faz mistura de filme e vídeo
ESTHER HAMBURGER
A mostra é composta por 6 filmes produzidos pelo cineasta que vem do videoclipe, no período de 1991 a 1995, exibidos em ordem cronológica. O programa dura pouco mais de uma hora e consiste em 3 experimentais, um documentário e dois filmes de ficção. O conjunto revela a enorme versatilidade de Torben em transitar por gêneros e técnicas com densidade. A vida urbana é um tema recorrente. Os três trabalhos experimentais, ``A Inundação", que abre o programa, ``Flâneur" e ``Flâneur 2 - Dândi" problematizam a poesia, a ecologia, a multidão e o frenesi das cidades grandes. No primeiro de 1991, já estão presentes os elementos que compõem a linguagem e a temática que o diretor experimenta com maior radicalidade na série de ``Flâneurs". ``A Inundação" é uma ficção científica de 16 minutos sobre o congelamento do pólo Norte e a inundação de grandes cidades. Uma casinha animada eletronicamente flutua por diversas cidades e florestas do planeta. Imagens de peixes e de arranha-céus se sobrepõem, exemplificando um recurso que caracteriza o trabalho do autor. Janelas sucessivas são recortadas no quadro. Em cada uma delas uma sequência diferente exemplifica o movimento das cidades. Prédios que sobem, bicicletas, transeuntes, a visão subjetiva do passageiro do trem. A sequência de ``Flâneurs" acrescenta o elemento literário à problematização da cidade. O texto comparece através da voz em off que recita trechos, mas também nas imagens que focalizam páginas impressas. Ítalo Calvino de ``As Cidades Invisíveis" ilustra o primeiro ``Flâneur" de enxutos 8 minutos (infelizmente a cópia em exibição é em dinamarquês sem legendas). Charles Baudelaire inspira ``Flâneur 2 - Dândi", um mergulho mais profundo -embora menos redondo nos seus 27 minutos- nas dificuldades de identificação na multidão. A solidão das relações passageiras. A ansiedade do movimento alucinado que encontra alguma paz momentânea em uma paisagem campestre de vivas cores eletrônicas. Os pés de uma mulher caminham meio sem chão nas ruas e estátuas. O homem caminha na neve e nas nuvens. É como se o olhar de amor passageiro, de que nos fala Baudelaire, fosse levado às últimas consequências, representado por uma alucinada colagem fatiada de fragmentos de imagens de pessoas e coisas em movimento. O resultado é abstrato, mas bastante sugestivo. Para quem tem pouca paciência para experimentações, a mostra dos trabalhos de Torben Jensen traz dois filmes de ficção. Neles, o diretor se aventura no terreno do filme mudo com animação eletrônica, em preto-e-branco. ``Le Véritable Homme Dans La Lune", uma homenagem ao cineasta George Méliès, e ``Freelancer" revelam o talento do diretor para contar histórias -engraçadas no primeiro, ou trágicas, no segundo. Texto Anterior: Telejornais são os mais afetados com nova grade Próximo Texto: Raimi busca o além-cinema Índice |
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