São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995
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Sobre o humor:

`É impolido dar-se ares de importância. É ridículo levar-se a sério. Não ter humor é não ter humildade, é não ter lucidez, é não ter leveza, é ser demasiado cheio de si, é estar demasiado enganado acerca de si, é ser demasiado severo ou demasiado agressivo, é quase sempre carecer, com isso, de generosidade, de doçura, de misericórdia...'

Sobre a doçura:
`A doçura submete-se ao real, à vida, ao devir, ao mais ou menos do cotidiano: virtude de flexibilidade, de paciência, de devoção, de adaptabilidade. O contrário do `macho pretensioso e impaciente', como diz Rilke, o contrário da rigidez, da precipitação, da força teimosa ou obstinada.'

Sobre a coragem:
`De todas as virtudes, a coragem é sem dúvida a mais universalmente admirada. Fato raro, o prestígio que desfruta parece não depender nem das sociedades, nem das épocas, e quase nada dos indivíduos. Em toda parte, a covardia é desprezada; em toda parte a bravura é estimada. As formas podem variar, claro, assim como os conteúdos: cada civilização tem seus medos, cada civilização suas coragens.'

Sobre o amor:
`O que fazemos por amor sempre se consuma além do bem e do mal', dizia Nietzsche. Eu não iria tão longe, já que o amor é o próprio bem. Mas além do dever e do proibido, sim, quase sempre, e tanto melhor. O dever é uma coerção (um `jugo', diz Kant), o dever é uma tristeza, ao passo que o amor é uma espontaneidade alegre. `O que fazemos por coerção', escreve Kant, `não fazemos por amor'. Isso se inverte: o que fazemos por amor não fazemos por coerção, nem, portanto, por dever.'

Extraído de ``Pequeno Tratado das Grandes Virtudes"

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