São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995
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Juiz sem regras

Das inúmeras definições de ``plano de estabilização", talvez a mais sugestiva seja ``reconstrução da moeda". Afinal, estabilizar uma economia significa principalmente recuperar a confiança de empresas, consumidores e trabalhadores na moeda como instituição.
Mas a moeda, evidentemente, não sendo em si mesma uma instituição (é uma coisa, papel ou moeda que circula), resume no seu valor a confiança nas instituições que pressupõe: o Tesouro Nacional e o Banco Central, em primeiro lugar.
Uma crise monetária é quase sempre uma crise de confiança na responsabilidade do Tesouro ou do Banco Central. No jogo econômico, essas instituições são os juízes.
Mas nada vale o dinheiro, papel ou moeda, nem as instituições, que atuam como juízes, se não houver regras. Claras e até negociáveis, mas sólidas o suficiente para que o jogo econômico não degenere.
O principal dano causado pela crise do Econômico está justamente na percepção, inevitável, de que sejam quais forem as irregularidades ou imperícias dos administradores do banco quebrado, o BC, juiz, demorou demais para agir. E quando agiu atropelou regras, em alguns momentos foi também atropelado.
Um juiz que ignora as regras ou que não tem autoridade para fazê-las valer acaba acuado e involuntariamente promove uma deterioração progressiva da confiança.
A busca de independência para o Banco Central, assim como a instituição de seguros para os depósitos, são idéias louváveis e podem vir a ser regras interessantes.
Mas o caso Econômico demonstrou que até as melhores regras podem ficar no papel, especialmente por razões políticas. Não basta criar novas regras. É preciso encontrar um juiz que as conheça e saiba aplicá-las na hora certa.

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