São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Florestan Fernandes

DARCY RIBEIRO

Sucedo a Florestan nesta coluna. Muito honrado. Ele foi o mais eminente dos cientistas sociais que o Brasil produziu, deixando uma obra copiosa, sábia e exemplar.
Foi o principal mestre da geração seguinte, que só não salvou o Brasil porque a sociologia não dá para tanto.
Mas aí está Fernando Henrique Cardoso de cabeça feita por Florestan Fernandes, se esbaldando para, com o apoio das direitas, dar ao Brasil coisas indispensáveis no meio de outras, dispensabilíssimas.
Entre as primeiras se conta a devolução ao Brasil de uma moeda. Conquista importantíssima, mesmo porque uma nação é feita de um povo, um território, uma língua, um jeito e uma moeda.
Florestan foi formado comigo nos seminários de etnologia de Herbert Baldus, da Escola de Sociologia.
Lá, conosco, leu, releu, refez suas teses admiráveis. Ele se preparou para reconstituir a vida social indígena pelo método funcionalista, através da análise de textos clássicos.
Alcançou imenso êxito. Sua obra que nos ficou para ser reeditada nos próximos séculos é ``A Organização Social Tupinambá". Um primor.
Eu, integrando o mesmo seminário, fui preparado para estudar a vida social pela observação direta das formas de conduta das populações indígenas viventes.
Diziam de nós dois que éramos como tratores de esteira usados para colher alfaces. E era verdade.
Florestan foi convocado para a luta política concreta nos debates da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Lutamos sob a liderança de Anísio Teixeira contra a corrente oposta, liderada por Lacerda e d. Hélder. Fomos vencidos.
Eles só queriam, e obtiveram, uma lei privatista e medíocre. A partir dessa instância, a obra de Florestan voltou-se para o Brasil como problema e desdobrou-se em dezenas de livros social e politicamente relevantes.
Ultimamente nos desavimos, ele como deputado, eu como senador, no debate da nova Lei Geral da Educação.
Eram contraposições menores, como a de dar aos estudantes voto igual ao dos professores na eleição de reitor. Eu não concordava, arguindo que era um absurdo pôr nos fracos ombros da juventude o destino de nossa universidade fracassada e em crise.
Em quase tudo o mais estávamos de acordo. Principalmente em que a nova lei deveria abrir ao Brasil uma profunda renovação educacional, porque todo o nosso sistema educativo está montado contra os alunos carentes. E eles constituem a maioria dos brasileiros. Só os salvando nos salvaremos.

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