São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 1995
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Falta de crédito atrasa plantio de feijão

CARMEN BARCELLOS; JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Produtores de São Paulo e Santa Catarina estão atrasando ou reduzindo a área de feijão da primeira safra (plantada de julho a outubro e colhida entre novembro e janeiro) por falta de crédito.
Na região de Itaí (290 km a oeste de São Paulo), a associação dos produtores calcula que a área poderá cair entre 60% e 70%.
O feijão ocupa normalmente 13 mil ha em oito cidades da região, com produção anual média de 19,5 mil t.
``Pelo menos 60% desta área já deveria estar plantada. Mas até agora só foi semeado 1%", diz Melquíades de Melo, agrônomo da associação.
``A maioria dos agricultores tem dívidas pendentes e não dispõe dos 70% exigidos pelo Banco do Brasil para a renegociação", diz.
Na região de Itararé (sul de SP), a Delegacia Agrícola avalia que apenas 10% da área foi plantada.
Um levantamento de intenção de plantio indicou queda de 50% na área, em relação aos 30 mil ha plantados no ano passado.
Os seis municípios da região respondem pela maior produção de feijão do Estado. Na última safra foram produzidas 28,8 mil t.
A Copasul (Cooperativa Agropecuária Sul Paulista), em Itaberá, ainda não iniciou a compra das 500 t de adubos e 120 t de sementes previstas para esta safra por falta de pedidos dos produtores.
``Nenhum dos nossos 50 cooperados iniciou o plantio", diz Carlo Fanckin Dornelles, chefe de assistência técnica da Copasul.
Ele avalia que o custo da lavoura por hectare está em R$ 650, 25% a mais do que em 94. ``Só em agosto, o adubo subiu 28%".
Se os produtores continuarem sem acesso ao crédito, Dornelles prevê redução de cerca de 30% na área plantada pelos cooperados em relação à de 94.
``Mesmo para quem não tem dívidas, o Banco do Brasil está dificultando os empréstimos com exigência de muitos documentos".
No oeste de Santa Catarina, a área deve cair de 120 mil ha para 80 mil ha, segundo Aury Bodanese, presidente da Cooperativa Aurora, de Chapecó.
A redução de área está sendo provocada pela ausência dos médios e grandes produtores, que enfrentam dificuldades para obtenção de crédito. ``Aumentou a burocracia nas operações", diz Bodanese.
Ele explica que apenas os míni e pequenos agricultores estão plantando, pois tradicionalmente não recorrem ao crédito rural.
No Paraná, de acordo com o Deral (Departamento de Economia Rural), a situação não é tão grave porque a maior parte do plantio de 560 mil ha feita por míni e pequenos agricultores.
O assessor especial da diretoria de crédito rural do BB, Biramar Nunes de Lima, nega que o banco tenha tornado mais burocrática a concessão de crédito.
Segundo Lima, a única exigência do BB é o pagamento de 50% (mínis e pequenos produtores) e 70% (médios e grandes) da dívida para efetuar a renegociação.

Colaborou JOSÉ ALBERTO GONÇALVES, da Reportagem Local.

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