São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 1995
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Museus de empresas

JÚLIO ABE WAKAHARA; GISELLE MARQUES LEITE PAIXÃO

JÚLIO ABE WAKAHARA e GISELLE MARQUES LEITE PAIXÃO
As organizações empresariais modernas vêm passando por profundas transformações no intuito de se adaptar às novas tendências da economia e às exigências de um mercado altamente competitivo.
O enfoque no cliente, a agilização da produção com diminuição de custos e aumento crescente da qualidade, a valorização dos colaboradores internos, os novos modelos de decisão participativa e a ênfase à informação e à comunicação são alguns dos aspectos destacáveis no atual panorama de gerenciamento das empresas.
Os novos paradigmas de gestão, que exigem modificação de posturas e renovação nos processos produtivos, evidenciam as necessidades de autoconhecimento da empresa e de elaboração de sua própria história.
É nesse momento que o processo museológico de trabalho vem atender tais necessidades: o museu de empresa é um equipamento que reúne e trata sistematicamente os materiais e informações que dão suporte a essa história, construída a partir do trabalho humano.
Registrando de forma permanente a informação gerada no âmbito da empresa, presta-se a evidenciar seu perfil, sua evolução e seus processos, com vistas a uma aplicabilidade agora e no futuro.
Esse novo tipo de museu apresenta-se como um recurso viável para recuperação, organização, salvaguarda e comunicação dos registros que exprimem a memória da organização, tanto nos seus aspectos internos quanto na sua expressão no cenário econômico externo; não se atendo só às evidências do passado, envolve-se também com o momento atual, com o que se produz e se modifica.
Seu alvo é a essência mesma da empresa, sua trajetória, sua cultura organizacional. É todo um universo de informações que se reúne e determina uma representação, consubstanciando-se num acervo de concepção abrangente que incorpora não só objetos materiais (o próprio produto, o equipamento empregado em sua confecção, a matéria-prima, a embalagem, memoriais técnicos, documentação publicitária etc.) mas, igualmente, bens de natureza intangível, como modos de fazer, processos de produção, modelos de gerenciamento, hábitos de relacionamento, práticas cotidianas.
Acervos imateriais que o museu transformará em depoimentos gravados, vídeos, fotografias, arquivos à disposição da empresa para embasar seus processos de avaliação e tomadas de decisão.
A memória organizacional tratada museologicamente deixa de manifestar-se apenas nos momentos de celebração (apresentando-se como um aspecto secundário da administração) para transformar-se num instrumento valioso de gestão que toca o principal: os processos essenciais da empresa.
Da exploração do acervo compilado, o museu também gera produtos de interesse para o gerenciamento de recursos humanos.
Envolvendo-se com a valorização do indivíduo, de seu grupo e de sua experiência de trabalho e de vida, o museu de empresa integra-se a projetos internos de treinamento de pessoal, programas de motivação e marketing interno.
Exposições, vídeos, publicações, programações dirigidas, atividades culturais e de lazer são exemplos de produtos que podem ser oferecidos à clientela da empresa, com ganhos motivacionais nascidos dos processos de identidade que tais ações costumam promover.
Se voltado ainda para o público externo, esse novo tipo de instituição museológica torna-se um veículo destacável para comunicação da imagem institucional, seja por intermédio de exposições de longa duração, mostras temáticas itinerantes e programas especiais, seja pela promoção de lançamento de produtos, comemorações e atividades culturais de relacionamento com a mídia, entre muitos outros exemplos.
A memória de indústrias, instituições financeiras e prestadores de serviços é elemento central na formação de sua identidade e no fortalecimento de seu perfil organizacional. Sobre essas bases, as empresas podem apoiar-se para fazer frente às renovações que o ambiente exige.

JÚLIO ABE WAKAHARA, 54, arquiteto e museólogo, é presidente do Conselho Regional de Museologia de São Paulo.

GISELLE MARQUES LEITE PAIXÃO, 40, museóloga, é membro do Conselho Regional de Museologia de São Paulo.

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