São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 1995
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Pior ataque em 18 meses mata 37 em Sarajevo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Duas bombas no centro de Sarajevo mataram pelo menos 37 pessoas e feriram 85. Sérvios e muçulmanos bósnios se acusam mutuamente pelo ataque, o pior à cidade desde fevereiro de 1994.
A primeira bomba -mais devastadora- atingiu o mercado Trznica, que estava lotado, na principal rua da cidade, por volta das 11h (6h em Brasília). Outras dez pessoas ficaram feridas logo depois, com uma bomba no Teatro Nacional, a poucas quadras.
Uma terceira bomba, de pequena força, feriu duas pessoas ao atingir o hospital Kosevo, onde a maioria das vítimas estava.
Outra bomba atingiu uma igreja ortodoxa, matou um fiel e feriu 50. A religião ortodoxa é majoritária entre os sérvios.
Os muçulmanos bósnios (maioria na cidade) dizem que foram atacados por rebeldes de etnia sérvia que cercam Sarajevo desde 92.
Os sérvios dizem que as bombas foram lançadas pelos próprios bósnios contra sua população, a fim de atrapalhar negociações de paz.
A ONU, que mantém tropas na região e oficialmente media o conflito, admite que não tem como saber quem lançou os mísseis.
O ataque ao mercado aconteceu em um ponto próximo cem metros do alvo do ataque de fevereiro do ano passado, que matou 68 pessoas e feriu outras 200.
A explosão de ontem causou pânico no centro de Sarajevo. "Assassinos, bastardos, eles merecem ser trucidados", gritava uma mulher junto ao mercado, coberta de sangue, minutos após a explosão.
"Mamãe, perdi minha mão", chorava uma menina ao ser levada para o hospital. A mãe, por sua vez, perdeu um olho no ataque e gritava por seu marido.
As instalações do hospital Kosevo ficaram lotadas e os médicos tratavam os doentes do corredor.
O primeiro-ministro da Bósnia, Haris Silajdzic, pediu o adiamentos das negociações de paz que deveriam começar ontem em Paris. "Precisamos pedir que a Otan ajude Sarajevo urgentemente", disse.
O subsecretário de Estado dos EUA Richard Holbrooke, que negocia o plano de paz americano e está em Paris para se encontrar com o presidente bósnio, Alija Izetbegovic, disse que o ataque não deteria as negociações.
Entretanto, o encontro foi adiado por três horas, e Izetbegovic pediu vingança, pelo rádio.
O secretário-geral da ONU, o egípcio Boutros Boutros-Ghali, pediu ao comando das tropas da ONU que ajam sem demora.
Os sérvios emitiram comunicado em que dizem não ter armas para um ataque como o do mercado. O líder dos sérvios da Bósnia, Radovan Karadzic, pediu uma enérgica investigação internacional.
"Sempre que há uma negociação de paz Sarajevo paga o preço e nosso povo é sacrificado", comentou um soldado bósnio junto aos corpos das vítimas.

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