São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 1995
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Estréia; Educação religiosa; Indenização para os dois lados; Contra a discriminação; Em defesa dos procuradores

Estréia
``Excelente a estréia de Darcy Ribeiro na Folha (28/8), sucedendo ao grande mestre da sociologia nacional Florestan Fernandes. Nossos parabéns!"
Mario Negreiros dos Anjos (Niterói, RJ)

Educação religiosa
``Indignado, leio a reportagem `Igreja pode ir à Justiça para que Estado ensine religião'. É um absurdo! Depositar o lixo religioso nas mentes de crianças, nas escolas, é um crime. Afinal, a quem interessa a manutenção de um ensino calçado em mitos e dogmas estúpidos? Combaterei essa pretensão criminosa que quer impingir aos nossos filhos mentiras e deuses inexistentes. Caso essa imbecilidade seja aprovada, proibirei meus filhos de irem à escola. Eu próprio, como sociólogo pós-graduado, proporcionarei a eles o ensino básico até que as trevas medievais desapareçam da escola pública."
Marco Antonio Salles (Mauá, SP)

``Sou judia e, como tal, acho totalmente discriminatória e antidemocrática a implantação do ensino religioso nas escolas (conforme reportagem de 26/8). O Brasil não é mais um país oficialmente católico. Não há mais uma religião oficial no país. Portanto, acho absurdo que se imponha o ensino da religião cristã nas escolas públicas. Não será essa uma forma implícita de fomentar o anti-semitismo latente, começando com as crianças?"
Délia Guelman (São Paulo, SP)

``Curiosíssima a reportagem `Igreja pode ir à Justiça contra Estado'. A reportagem embasa-se em um absoluto poder da Igreja estampado na pessoa do bispo-coadjutor de Jundiaí, d. Amaury, que critica a secretária de Educação, Rose Neubauer, afirmando que eles, religiosos, entendem mais de religião do que ela. Isso pode até ser verdade. O que não é verdadeiro é o bispo entender mais de metodologia de ensino do que a secretária. Deixa transparente a reportagem que o ensino religioso, do ponto de vista do bispo-coadjutor, deverá ser ministrado aos bons olhos do catolicismo. E se a escola assim o fizer, estará se descaracterizando do seu sentido máximo que é o de esclarecer, mostrar, diferenciar e dar conhecimento. O ensino religioso é ensino das religiões e não ensino da religião."
Ronaldo Rodrigues (Araguari, MG)

Indenização para os dois lados
``De parabéns a Folha pelas aspas no título na pág. 1-13 de 27/8, Anistia protege os `criminosos', expressão, sem aspas, de diretor da Human Rights Watch. Ora, a quem ele queria que anistia, qualquer anistia no campo penal, protegesse? Até parece que diversos anistiados da esquerda, ainda que idealistas políticos, não fossem criminosos. Exemplo: Lamarca, herói para seus admiradores, nem por isso exclui o fato de ter sido desertor, ladrão de armas, homicida. Se vier a causar indenização também caberá, por justiça, o pagamento aos familiares do então tenente que teve sua cabeça esfacelada pelo sr. Lamarca, em valor até igual ou superior. No Araguaia havia guerrilha, com mortos de ambos os lados."
Lisias Machado Silva (Joinville, SC)

Contra a discriminação
``Sr. Capotorto, alguns brasileiros incomodados com tantos migrantes italianos comendo polenta no Brás e no Bexiga poderiam rogar-lhe o especial favor de reaprender italiano, entender o significado de seu nome e, logo depois, se mandar daqui que este país é nosso e, entre nossos costumes, que o sr. tanto detesta, está o de acolher bem os gringos que vêm para cá porque lá, de onde vieram, a situação estava muito mais preta que no Nordeste do Brasil."
Paulo Fernando Cunha (Jaboatão dos Guararapes, PE)

``Tenho uma proposta para o sr. João Carlos Capotorto, de São Paulo, missivista do `Painel do Leitor' de 27/8: já que milhares de pessoas da Bósnia-Herzegovina e da Sérvia estão querendo abrigo em algum lugar deste país, com toda a sua miséria e pobreza, sugiro que o sr. Capotorto forme um batalhão de voluntários, que pensam como ele, e proceda a uma permuta de população, pois lá só tem `galeguinhos dos zóis azul'."
José de Arimatéa Nogueira Alves (Salvador, BA)

``A propósito da multidão incômoda para o sr. João Carlos Capotorto, em minhas veias corre o sangue dos Amaral e dos Junqueira, dos Prado e dos Ferreira. Sou bisneto de Júlio Ribeiro, autor da bandeira das 13 listras, e como descendente que sou da cepa de outrora posso dizer que sempre foram bem-vindas aqui gentes de todas as partes (provavelmente seus ascendentes também o foram quando aqui chegaram, `signore' Capotorto) e que esses muitos que vieram construíram e constroem a força desta terra. Não, sr. Capotorto, o que São Paulo precisa é de mais cidadania e menos preconceito. Cultura se faz com diversidade. Esta cidade que o sr. diz que está perdendo valor `venal' com a vinda dos nordestinos não teria o valor que tem sem o trabalho deles. Abra seus olhos e seu coração, sr. Capotorto, e ajude a unir e não a separar."
Sérgio Pinheiro Lopes (São Paulo, SP)

``Sou paulistano há 32 anos e no momento estamos de mudança para o interior do Estado. Tudo o que tínhamos aqui vendemos para conseguir construir uma casa e mudar da capital, pois, como bem colocou o sr. João Carlos, chegamos à dura conclusão de que, devido em grande parte à migração desenfreada, a capital dos paulistas se tornou impraticável para uma vida decente. Toda essa gente vem pra cá armada só de sua esperança de uma vida melhor, mas somos nós que temos de pagar. A nós paulistanos cabe o papel de vacas leiteiras, pagando impostos de boca fechada, né? Pois bem, farto da hipocrisia oficial e não dando nenhum valor à opinião de quem tem dinheiro para ser liberal ou moderno, eu digo: a cidade é de vocês, adeus São Paulo!"
Paulo Boccato (São Paulo, SP)

Em defesa dos procuradores
``Na edição de 20/8 o jornal `O Estado de S.Paulo' (pág. A-16) retoma ofensas aos procuradores do Estado, equiparando-os a servidores não-concursados e acusando-os de `traição' ao Estado. O noticioso ignora que todo cidadão tem a garantia constitucional de pleitear em juízo a reparação de direitos. Não poderia ser diferente com os procuradores do Estado, como também não é com os próprios juízes, que também ingressam com ações para defender direitos lesados. A reportagem denota fragilidade quando se verifica que houve reconhecimento judicial do direito reclamado -indicando sua procedência- e não consegue apontar falha na defesa do Estado. Ataca-se assim o Poder Judiciário, demonstrando desprezo pelas instituições democráticas permanentes."
Alexandre Cassettari, procurador do Estado, seguem-se mais 18 assinaturas (São Paulo, SP)

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