São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995
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Luiz Felipe não esperava ir à final

MÁRIO MOREIRA
DO ENVIADO A MEDELLÍN

O técnico do Grêmio, Luiz Felipe, não esperava chegar à decisão da Taça Libertadores.
A revelação foi feita à Folha durante o vôo que levou a delegação do Grêmio à Colômbia.
Gaúcho de Passo Fundo, Luiz Felipe Scolari, 46, dirige o Grêmio há dois anos. Neste período, levou o time a ganhar a Copa do Brasil de 94 e o Campeonato Gaúcho de 95.
(MMo)

Folha - A maneira de jogar do Grêmio reflete o seu modo de ver o futebol ou você apenas adota o estilo mais adequado aos jogadores que tem?
Luiz Felipe Scolari - O Grêmio joga com esse estilo por uma série de fatores. O primeiro é o futebol desenvolvido na região Sul, em função do biotipo dos atletas, altos e fortes, e do clima, muito frio no inverno.
O segundo é que temos uma ligação maior com Uruguai e Argentina do que com Rio ou São Paulo, e esses países praticam um futebol semelhante ao nosso.
A terceira razão é que procuramos levar para o Grêmio jogadores que possam se adaptar a esse estilo. Quem não gosta de jogar no barro, como acontece no inverno gaúcho, não consegue jogar no Rio Grande. Além disso, a minha filosofia de trabalho ``fechou" muito com a da diretoria do Grêmio. Então, como há plena sintonia, fico tranquilo para montar a equipe nos moldes que desejo.
Folha - Como você define o time do Grêmio hoje?
Luiz Felipe - Meu time tem força, uma razoável técnica e, sobretudo, é muito organizado. Cada jogador sabe o papel que tem em campo. Por isso é que o time está na final da Libertadores e tem chances no Brasileiro.
Folha - Existe preconceito contra o futebol gaúcho?
Luiz Felipe - Não. O que há são conceitos diferentes de futebol. O futebol carioca, por exemplo, tem suas peculiaridades, determinadas, em grande parte, pelo clima. É natural.
Folha - Você esperava chegar à final da Libertadores?
Luiz Felipe - Não. No começo do ano, ninguém do nosso grupo acreditava nisso. O time foi muito modificado do ano passado para este. Saíram quatro titulares e chegaram sete. Então, eu teria que arrumar a equipe durante a competição.
Folha - Com o sucesso que vem conseguindo, você não pensa em chegar à seleção?
Luiz Felipe - Sinceramente, essa idéia não me coça. Sempre pensei, isto sim, em treinar o Grêmio, o Inter, os grandes do Rio e de São Paulo. Enfim, progredir profissionalmente.
Folha - Você passa uma imagem de técnico severo, mas, no dia-a-dia do grupo, é possível vê-lo rindo e brincando com os jogadores. Como explica isso?
Luiz Felipe - No trabalho, prefiro ter uma postura mais sisuda. Se abrir muito a guarda com o time e a imprensa, vou ter dificuldades mais à frente.
Como os jogadores têm todas as mordomias possíveis, procuro lhes dar um pouco de responsabilidade. Mas, quando não estamos treinando, participo do grupo com alegria, porque sou assim. É preciso ter jogo de cintura.
Quando eu era jogador, tive um técnico, chamado Sérgio Moacir Torres, que me dava um cálice de vinho antes das refeições. Ele sabia que eu, descendente de italianos, estava acostumado a isso. Esse tipo de coisa contribui para um ambiente agradável. Procuro ser assim.

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