São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995 |
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Portoghesi prega 'equilíbrio naturalista'
MARA GAMA
Com um programa cheio, ele lamenta não ter mais tempo para conhecer o país. Autor de livros e ensaios sobre a arquitetura barroca italiana, Portoghesi se interessa pelas obras de Aleijadinho. Ele destaca a arquitetura de Oscar Niemeyer como uma das mais importantes do século e confessa que quando viu pela primeira vez, por fotografia, a igreja da Pampulha (de Niemeyer) achou que a arquitetura brasileira fosse a saída: um sinal de alegria ``desinibida" contra a solidez ``castradora" da arquitetura européia. Portoghesi prega o equilíbrio naturalista. Para ele, a proteção à natureza é a idéia mais importante que se difundiu nos últimos 20 anos. A seguir, trechos da entrevista. Folha - O que o sr. quer ver no Brasil? Paolo Portoghesi - Só estive no Brasil uma vez, há 8 anos, e conheci apenas Salvador. Gostaria de conhecer as obras de Aleijadinho. Mas tenho também o fascínio pela natureza. O Brasil é um lugar onde a natureza se exprime quase com violência. Folha - O sr. é historiador e teórico da arquitetura. Qual é sua idéia atual de arquitetura? Portoghesi - Acabo de finalizar um livro no qual estou trabalhando há 20 anos, que se chama ``Natureza e Arquitetura". Será publicado em abril de 1996 na Itália. É dedicado a uma análise comparativa entre a estrutura natural e da estrutura criada pela homem. Na compreensão da natureza está o caminho que a arquitetura deve trilhar. Devemos compreender a harmonia da natureza e suas leis. Ao mesmo tempo, é necessário ter uma relação de familiaridade com a história, coisa que as gerações passadas tinham espontaneamente. Uma pessoa que construía uma casa sabia como fazê-lo porque fazia mais ou menos como seu pai e seu avô. Agora, nós temos como princípio fazê-la diferente. Precisaríamos manter o aspecto criativo da modernidade, a vontade de colocar tudo em discussão, mas também prestigiar o que foi feito antes de nós. Folha - Como obter esse equilíbrio? Portoghesi - Com uma arquitetura que responda às exigências locais. Poderia citar o meu caminho, mas não quero ser tomado como modelo. Acho que a arquitetura é sempre mais que uma coisa individual de um arquiteto. Deve ser reconhecida pelo lugar onde surge e pelo propósito que tem, porque senão se reduz a um fato comercial, de moda. Se uma pessoa se veste de Valentino e outra de Dior, está tudo bem, a variedade até faz vista numa festa, mas uma cidade é uma coisa que dura, que tem um caráter coletivo. Folha - O sr. vê essas preocupações na produção atual? Portoghesi - Não nas coisas mais aparentes. Eu, até por ser historiador, tenho que folhear as revistas. Mas o que há de válido hoje não se encontra nessa passarela de modelos que são as revistas. Se vêm vestidos de noite, jóias falsas, o alternar-se das modas. Mas, se você viaja pelo mundo, de tanto em tanto se dá conta que há uma fábrica nova que está inserida na paisagem e que não perturba essa paisagem. Eu acredito que o futuro da arquitetura deva ser procurado nesses lugares e não na exibição. Folha - Poderia dar exemplos dessas soluções? portoghesi - Vejo coisas muito interessantes na Hungria. Com o uso da madeira, uma dezena de arquitetos dá sinais de vitalidade. Vejo também a vitalidade de alguns como Frank Gehry (arquiteto e designer canadense associado ao desconstrutivismo), apesar de não adotar os cânones de sua escola. Folha - Que arquitetura terá influência no próximo século? Portoghesi - Frank Lloyd Wright (1867-1959) ensinou como sentir a dimensão do corpo humano e projetá-la em suas obras. Louis Kahn (1901-1974) evocou a forma de uma maneira simples e eficaz. Eu diria também que Niemeyer teve a capacidade de utilizar a curva, de colher estruturas naturais que parecem ser resultado de liberdade absoluta. Nos anos de ouro da arquitetura brasileira -anos 40 a 60- o Brasil era a grande esperança de superar o racionalismo em uma forma nova de naturalismo vivaz, alegre. Texto Anterior: Mitos rondam 'Meias de Seda' Próximo Texto: Palestra abre exposição Índice |
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