São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995 |
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Mitos rondam 'Meias de Seda'
INÁCIO ARAUJO
Vendo ``Meias de Seda" (Globo, 1h05), a comparação inevitável é entre Cyd Charisse e Greta Garbo. Garbo foi ``Ninotchka" na comédia feita por Lubitsch no fim dos anos 30. Charisse retomou o papel, nos 50. Greta Garbo fazia esforço para deixar de lado sua pose glacial -de ``mulher essência", como certa vez a definiu Roland Barthes- e cair no riso, trocando a aridez do comunismo pelas delícias de Paris. Em Cyd Charisse, a dançarina das pernas colossais, é tudo o inverso: como se ela esperasse impaciente o momento em que faz da dança um exercício de triunfo da sensualidade, do dionisíaco. Garbo podia rir quanto quisesse: nunca será mais do que a encarnação do belo, da mulher impalpável. Mais uma entidade do que uma mulher. Cyd Charisse, ao contrário, é tangível, humana. Não representa sentimentos. Ela os traz em si. E há, também, a comparação entre Lubitsch e Rouben Mamoulian. Eram duas celebridades, nos anos 30. Mamoulian ficou famoso por suas exigências e brigas. Tinha em alta conta a arte do cinema. Lubitsch parecia fazer cinema como quem respira: não dando maior importância ao ato, no entanto vital. Hoje, o cinema de Lubitsch permanece vivo e leve. No de Mamoulian, ao contrário, a poeira do tempo parece pesar. Tudo é composto demais, cuidado demais. Por fim, no setor mitos, há Arthur Freed. O mago da Metro operou, desde o fim dos anos 40, uma transformação no musical americano. Botou engenho e arte num gênero que vivera, até ali, da imaginação alucinante de Busby Berkeley. E fez musicais que não eram apenas uma série de números costurada por uma historinha de quarta categoria. Esse empenho de produção e roteiro será possível constatar, também, em "Meias de Seda". Texto Anterior: Hoje não tem coluna porque sou final 6 Próximo Texto: Portoghesi prega 'equilíbrio naturalista' Índice |
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