São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Madredeus traz viagem fantástica ao Brasil

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Show: Madredeus
Quando: sexta e sábado às 21h e domingo às 20h
Onde: Sala Casablanca do Hotel Meliá (av. Nações Unidas, 12.559, anexo ao World Trade Center, tel. 011/971-5253, zona sul)
Quanto: R$ 40 (setor B) e R$ 50 (setor A)

Os dias de Madredeus cada vez mais pertencem ao globo da fantasia. O sexteto, fundado há nove anos no bairro industrial de Madre de Deus em Lisboa, vive desde 1991 aquilo que seus membros definem como ``nossa viagem maravilhosa". A aventura começou despretensiosa, progrediu pela grande arte e agora se expande pelo cinema.
Madredeus traz a viagem para o Brasil pela terceira vez. Tocou sexta e sábado últimos em Salvador. De sexta a domingo se apresenta em São Paulo. Dia 6 vai para Belo Horizonte e retorna a São Paulo para um concerto ao ar livre, no Parque Ibirapuera, domingo, dia 10, às 10 horas.
A música etérea, lenta e de letras sintéticas já imantou o público brasileiro em 1991, quando o grupo tocou na Sala Cecília Meirelles no Rio. O som encantatório ganhou mais densidade no último ano, quando o grupo se exibiu no Teatro Castro Alves de Salvador e no Teatro Municipal de São Paulo.
O fio desse canto suave está a cargo voz da soprano Teresa Salgueiro, 26. ``A voz, o corpo e o espírito dela são a inspiração do grupo", diz o compositor e violonista Pedro Ayres Magalhães, 36, fundador do Madredeus ao lado do tecladista Rodrigo Leão, que foi substituído por Carlos Trindade, 40. ``Componho para ela, como se fosse uma peça."
Pedro vinha de uma carreira bem-sucedida de baixista nas bandas pós-punk Heróis do Mar e Resistência, além de incursões no punk nos 70. Ele enxerga conexão entre as canções sofisticadas do Madredeus e as convulsões pessimistas de seus tempos de roqueiro.
``Sempre busquei criar um repertório em português e aumentar as possibilidades do espetáculo", conta. ``Nos anos 80 não havia nada em Lisboa, nem vida noturna nem espaços para concertos."
Português era uma língua banida e a referência popular ainda era o fado. Com o Madredeus, acha Pedro, a música portuguesa chegou à universalidade e passou a ser aceita pelas grandes platéias da Europa. Cansado da cena pós-punk, Pedro decidiu reunir amigos no Teatro Ibérico de Madre de Deus para visitar a tradição lusa em longas sessões noturnas.
Teresa tinha 17 anos e ainda estudava no Liceu quando fez o teste de canto diante de Pedro e Rodrigo. Em dois minutos, foi aprovada. Segundo o fundador do Madredeus, foi a voz dela que determinou a presença do violoncelo e do acordeom no conjunto, respectivamente tocados por Francisco Ribeiro, 29, e Gabriel Gomes, 30.
Em 1987, apareceu o primeiro disco, o álbum duplo ``Os Dias de Madredeus". Mas foi em 1990, com o lançamento do CD ``Existir", que o Madredeus iniciou sua ``digressão" pelo mundo.
Desde 1991, o grupo tem digredido, com poucas voltas à casa. Acumulou discos de ouro e platina com os cinco álbuns que lançou e fez carreira em toda a Europa, Japão e Brasil. São hoje os artistas portugueses de maior renome internacional. Sua obra chega a 50 composições e 1 milhão de discos vendidos no mundo.
Acaba de editar no Brasil dois CDs, um deles intitulado ``Ainda", com a trilha sonora do filme ``Lisbon Story", do diretor alemão Wim Wenders.
Wenders se entusiasmou tanto com a música de ``Existir" que pediu a Pedro para usá-la no filme encomendado pela prefeitura de Lisboa. Pedro lhe ofereceu uma trilha inédita. ``Wenders filmou baseado nas músicas", orgulha-se.
Não só isso. Hipnotizado pela misteriosa beleza de Teresa, o diretor incluiu-a no filme. Faz o papel da mulher de um cineasta em crise, e cantora do Madredeus. O filme mostra o grupo preparando a viagem ao Brasil, como de fato o fez em 1994. O Madredeus aparece tocando a música ``Ainda".
``Recolhemos impressões sobre o que é música e poesia portuguesa", faíscam os olhos de Teresa. ``Elaboramos uma fantasia sobre nossa viagem." Esta promete durar o tempo das obras de arte.

Texto Anterior: EUA celebram o fracasso em 'Apollo 13'
Próximo Texto: Grupo encena morte do fado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.