São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Carla Camurati rejeita violentos

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A atriz e cineasta Carla Camurati cresceu vendo filmes na TV. Na primeira vez que foi ao cinema, aos 6 ou 7 anos, deu vexame. O filme era ``O Mágico de Oz". Quando a bruxa investiu contra Judy Garland, adormecida na relva, Carla começou uma gritaria que só acabou quando ela foi retirada do cinema aos beliscões.
Mais crescidinha, o jeito foi assistir muitas vezes ao filme para superar o trauma. Desnecessário dizer que ``O Mágico de Oz" é uma das cerca de 40 fitas que Carla Camurati tem em sua modesta, mas seleta, videoteca.
``Se `O Mágico de Oz' foi o filme mais marcante da minha infância, na adolescência passei pela fase `Romeu e Julieta', que vi umas seis vezes, e `Love Story', umas dez. Chorei em todas elas", diz.
Hoje em dia Carla frequenta o cinema e a videolocadora com a mesma assiduidade: ``Nos últimos dois ou três meses ando meio em falta com o cinema, por falta de tempo. O último filme que vi foi `O Menino Maluquinho', que achei muito bem-feito."

Gosto eclético
O gosto eclético da atriz e cineasta se reflete nos títulos de sua videoteca, que inclui desde clássicos com Greta Garbo (``Ninotchka", ``A Dama das Camélias") a preciosidades ``trash" de Ed Wood (considerado ``o pior cineasta do mundo"), como ``Glenda and Glenda", comprado na última viagem a Nova York.
Somem-se a isso meia-dúzia de Fellinis, outros tantos Woody Allens, os três ``Indiana Jones", ``Copacabana" (com Carmen Miranda), ``Flash Gordon" e inúmeros episódios das séries ``Batman" e ``Jeannie É um Gênio" gravados da TV americana.
Só dois tipos de fitas não passam no videocassete de Carla Camurati: filmes violentos e ``esses dramas pretensamente eróticos", como ``Nove Semanas e Meia de Amor" e ``Proposta Indecente".
Os filmes violentos, porque a deixam ``com medo, cheia de tiques e de sustos". Os ``eróticos", porque ``é broxante esse negócio de as pessoas treparem meio vestidas, diante da geladeira aberta".

Pesadelos
Mesmo quando gosta de um filme violento, Carla tem dificuldade em vê-lo até o fim. ``O `Cabo do Medo', do Scorsese, é tão apavorante que passei mal, tive que parar o vídeo duas vezes. Um filme assim me faz ter pesadelos."
Segundo ela, o vídeo serve para ``ver coisas que a gente perdeu no cinema" e ``rever os filmes que a gente adora". Entre estes últimos, o que ela viu mais vezes ``na vida adulta" foi ``Crepúsculo dos Deuses", de Billy Wilder. ``Vi umas oito ou nove vezes, sei de cor todos os diálogos."
No caso de filmes brasileiros, a cineasta considera importante ver obras de outras épocas, ``para ter a dimensão do que já foi feito no país". Ela gosta de ver e rever sobretudo chanchadas com Oscarito e Grande Otelo.
``Carlota Joaquina", o primeiro longa de Carla, está saindo em vídeo (leia abaixo). Ao contrário de seu ídolo Fellini, a diretora não se incomoda ao imaginar que as pessoas poderão manipular à vontade a imagem e o ritmo de seu filme.
``Isso não me dói nada. Se eu pudesse, faria uma promoção entre os espectadores, oferecendo um prêmio para quem descobrisse a reutilização de figurinos, transformados, de uma cena para outra."
Carla, que mora no Rio, só lamenta duas coisas: que as locadoras cariocas não sejam tão diversificadas quanto as paulistanas e que as fitas feitas na Europa (em sistema Betamax) sejam incompatíveis com nossos vídeos. ``Ainda bem que vêm aí os videocassetes compatíveis com qualquer sistema", diz.

Texto Anterior: 'Sangue de Pantera' abre ciclo de clássicos
Próximo Texto: Diretora põe chanchada na história
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.