São Paulo, sexta-feira, 1 de setembro de 1995
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O Grêmio e a caixinha de surpresas

AIRTON GONTOW
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Grêmio é um time argentino. Pero no mucho.
O argentino ama Gardel.
O gremista ama Jardel.
E ama Lupiscínio Rodrigues, autor do hino "Até a pé nos iremos", que tão bem traduz o espírito batalhador desta equipe dos pampas. Em algum canto do universo, Lupiscínio deve estar agora cantando "felicidade não foi se embora..."
O Grêmio é campeão da América porque o futebol, salvo exceções, não é uma caixinha de surpresas. O time gaúcho reuniu méritos, ao longo dos últimos anos, para se tornar um grande vencedor. Trabalha bem e colhe resultados. Ninguém chega a tantas decisões devido à sorte.
É um clube extremamente organizado. No Olímpico, que tem capacidade para 60 mil torcedores, a famosa dança dos técnicos está mais fora de moda do que o can-can. O competente Luiz Felipe comanda seu time há dois anos. Permaneceria prestigiado no cargo mesmo se o Grêmio tivesse sido goleado na Colômbia.
Os dirigentes gremistas têm a paciência de um bom assador de churrasco, realizando um ótimo trabalho de base. Aos pouquinhos, o time fica no ponto.
O time dos pampas é uma fábrica de novos talentos. Isso se reflete nas seleções nacionais. O Grêmio tem dois jogadores na seleção sub-15: os meias Miackel e Ronaldo; dois na sub-17: o volante-capitão Carlos Alberto e o lateral-esquerdo Djimi; e dois no grupo de já convocados por Zagallo: Danrlei e Roger.
Faltam no time atual craques indiscutíveis, é verdade. Até o mais fanático dos gremistas reconhece que dá saudades de ver na equipe um De Leon, um Mário Sérgio e um Renato Gaúcho. Mas é um time formado por bons jogadores, como Arce, Rivarola, Dinho, Carlos Miguel e Paulo Nunes e o matador Jardel.
Além disso, se apenas os notáveis tivessem direito às grandes conquistas, os campeonatos nem deveriam acontecer. O título brasileiro por exemplo poderia ser disputado em um rápido quadrangular entre Flamengo, São Paulo, Palmeiras e Corinthians. A beleza do Grêmio está justamente em seu futebol coletivo. A beleza da ocupação de espaços. A beleza da solidariedade. A beleza do entrosamento. A beleza da garra. A beleza da superação.
Convenhamos, é muito fácil ser campeão da América com Pelé, Pepe e Coutinho. É fácil chegar lá com Renato Gaúcho, Tita e De Leon. O título conquistado na última quarta-feira é a vitória do homem humilde do povo. A prova (esperança?) de que com trabalho, determinação e união um dia todos poderemos chegar num patamar melhor.
A decisão do título mundial é só em dezembro. É preciso ter "nervos de aço" e trabalhar à espera do melhor time europeu da atualidade.
Se o Grêmio tem chances contra o Ajax? Ora, é claro que sim. Afinal, cada jogador do Grêmio é muito OMO.
E com atletas assim, o mundo pode ficar mais branco...e preto...e azul.

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