São Paulo, sábado, 2 de setembro de 1995 |
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MEC distribui livro 'não-recomendado'
FERNANDO ROSSETTI
No ano passado, o livro foi aprovado em uma avaliação e venceu uma licitação de compra de material didático para o Projeto Nordeste -um programa que envolve US$ 780 milhões, metade financiada pelo Banco Mundial. Só que, no mesmo ano, o livro -que tinha outro nome, mas o mesmo conteúdo- havia recebido duras críticas em um documento elaborado por uma comissão de especialistas montada pelo então ministro da Educação, Murílio Hingel, para estabelecer critérios de avaliação de livros didáticos. As páginas criticadas dos volumes de matemática da coleção "Viajando com o Saber", de Mafalda Martins Andrade, editado pelo Ibep (Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas), são idênticas às do livro distribuído em 95 com o título "Viajando com os Números", da mesma autora e editora. O presidente do Ibep, Jorge Yunes, 62, diz que as diferentes avaliações recebidas pelos dois livros -que de diferente só têm o título e capa- "mostram como as avaliações são subjetivas" (leia texto ao lado ). A constatação de que os dois livros eram iguais e de que o primeiro havia sido "não-recomendado" foi feita por Eliene Amorim, 33, responsável pelo acompanhamento do Projeto Nordeste do Centro Luiz Freire -organização não-governamental que atua na área de educação em Recife (PE). "Já estamos com um processo na Procuradoria Geral da República porque o governo está distribuindo um único livro didático de matemática para todo o Nordeste, desconsiderando as especificidades regionais", afirma Amorim. "Agora, estamos pensando em entrar com outra ação por má gestão dos recursos públicos, já que o único livro que o governo comprou é ruim", acrescenta. A avaliação dos 31 milhões de livros -um terço de matemática- que foram distribuídos este ano pelo Projeto Nordeste é responsabilidade de uma comissão de avaliação que tem cinco representantes de cada Estado nordestino. Essa é a explicação para a aprovação de "Viajando com os Números" dada igualmente pelo responsável do MEC pelo Projeto Nordeste, Antonio Emílio Marques, 50, pelo diretor da FAE (Fundação de Assistência ao Estudante, responsável pela compra), Laert Costa Lima, 38, e pelo gerente dos programas de educação do Banco Mundial no Brasil, Robin Horn, 41. A avaliação anterior -que não recomenda o livro- está exposta no documento "Definição de Critérios para a Avaliação dos Livros Didáticos", divulgado em dezembro passado. "O livro realmente tem problemas sérios ", diz Tânia Campos, 48, diretora do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da PUC-SP, que participou do grupo de trabalho que elaborou o documento. Amorim, do Centro Luiz Freire, defende que a seleção de livros didáticos deva ser feita por comissões específicas por Estado. Um dos dois livros de português distribuídos este ano aos alunos do Nordeste é da mesma autora e editora do livro de matemática. (FR) Texto Anterior: 'Camisinha' para dentista é lançada em SP Próximo Texto: 'Critérios não são científicos' Índice |
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