São Paulo, sábado, 2 de setembro de 1995
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Ensino religioso interdisciplinar e interconfessional

PAULO EVARISTO ARNS

Presidi a 18ª Assembléia Arquidiocesana Anual dos Professores de Ensino Religioso nas Escolas Públicas, dia 25 de agosto, com 300 participantes.
Recebi significativo volume que registra 20 anos desse trabalho da Arquidiocese de São Paulo, que tem à frente nosso bispo auxiliar, d. Décio Pereira. Por isso, não só sou a favor, mas realizo essa dimensão indispensável na educação de nossas crianças e adolescentes.
Há pouco nossa Secretaria de Educação pesquisou, entre as famílias dos alunos, se desejavam ensino religioso na escola estatal. A resposta positiva foi de 80% das famílias. Por isso, a formação ética e espiritual é grande aspiração do nosso povo, que é profundamente religioso. Vejo aí a exigência democrática do ensino religioso.
Hoje também não se discute a exigência holística da pedagogia, que propõe a formação integral da pessoa humana. A pessoa deve ser trabalhada em todas as suas dimensões vitais, desde a dimensão física até a vida espiritual.
Por isso, a experiência dos valores da justiça, verdade e amor nas relações sociais faz parte da formação humana.
O trabalho que realizamos nas escolas públicas se faz através de aulas ministradas sem proselitismo religioso, por professores capacitados pelo Erep -nossa comissão arquidiocesana para ensino religioso nas escolas públicas- e convictos de que a dimensão religiosa tem importância indispensável na construção de nossa gente.
Os professores são da rede pública e realizam o ensino religioso inteiramente voluntário, respeitando o pluralismo religioso dentro da sala de aula. Procuram transmitir valores humanos e transcendentes, num processo pedagógico de interdisciplinaridade e interconfessional, onde a palavra de vida vem de textos sagrados e outros.
O eixo desse trabalho é a formação da consciência de nossas crianças e adolescentes. Para que tenham uma consciência crítica e não cretina no campo religioso. Esse ensino parte do conhecimento de si mesmo, como pessoa humana, valorizando sua condição de criatura mais perfeita da criação.
Respeitando o outro como seu semelhante. Conhecendo, amando e colaborando com a natureza, posta a seu serviço. Chegando assim a Deus, o Absoluto, autor da vida e harmonia que encontramos à nossa volta.
Assim, nossos professores de ensino religioso pretendem dar condições aos alunos de 1º e 2º graus para que valorizem um ser superior e façam uma escolha consciente de sua opção religiosa.
Por isso, não devem excluir ninguém dessa formação fundamental. Buscamos integrar a todos num clima de respeito, justiça e paz. Procuramos ajudar na descoberta do verdadeiro sentido da vida. Pois o nosso Deus é o Deus da vida. Fomos criados para viver e viver em todas as dimensões, inclusive a espiritual.

D. PAULO EVARISTO ARNS, 73, é cardeal-arcebispo de São Paulo e grão-chanceler da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

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