São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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FHC articula aproximação com oposição

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Às voltas com dificuldades de relacionamento com os partidos que o apóiam, o presidente Fernando Henrique Cardoso articula uma aproximação com a oposição. Quer estabelecer diálogo especialmente com o PDT e o PT.
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, é o operador da articulação. Em seus contatos com políticos de oposição, ele diz que o governo tem todo o interesse em estabelecer o que chama de "diálogo transparente" com a oposição.
Atento à movimentação, o PFL se arma. Pretende fuzilar os planos do presidente antes mesmo que sejam formalizados publicamente.
O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e seu filho Luís Eduardo, presidente da Câmara, consideram a idéia uma tolice.
Na última segunda-feira, o próprio FHC recebeu, em segredo, uma liderança de oposição. A conversa ocorreu à noite, no Alvorada. Sob o compromisso de sigilo do nome do informante, a Folha obteve um relato do diálogo.
Falou-se abertamente sobre o interesse do governo de entender-se com a oposição. Mencionou-se a idéia de elaborar uma pauta mínima.
Chegaram mesmo a detalhar possíveis temas da pauta: retomada do crescimento econômico e reformas agrária, tributária, do Estado e eleitoral.
Antes de deixar o Alvorada, o interlocutor do presidente disse que considerava difícil que os partidos governistas concordassem.
O presidente e seu ministro da Justiça acham que, de fato, a operação deve desencadear uma onda de ciúmes entre os governistas. Mas ambos consideram que há espaço para trabalhar.

PT
Acham que a eleição do ex-deputado José Dirceu para a presidência do PT, em substituição a Luiz Inácio Lula da Silva, facilita a aproximação com o partido.
As impressões de Jobim foram reforçadas por um telefonema que recebeu, no início da semana, do petista Vitor Buaiz, governador do Espírito Santo. Buaiz disse que a Comissão Executiva do PT, Dirceu incluído, desejava encontrar-se com Fernando Henrique.
O governador pediu a Jobim que verificasse com o presidente se havia possibilidade de abrir um espaço em sua agenda no dia 15.
Buaiz esclareceu que o PT, preocupado com a atmosfera de violência no campo, levaria a FHC um memorial pela reforma agrária.
Consultado, Fernando Henrique assentiu de imediato. Seria uma forma de iniciar a aproximação, imaginou. Mas estará na Bélgica no dia 15. Sugeriu o dia 12. Jobim informou Buaiz.
Dirceu disse à Folha que a nova data não convém ao partido. Afirmou que, no dia 15, o PT patrocinará, em Brasília, um ato público contra a violência no campo.
Daí ter pedido o encontro com o presidente naquela data. Dirceu mostrou-se informado sobre as intenções do presidente e de Jobim.
Disse que não se deve confundir a ação do PT em torno do tema agrário com a intenção do governo de dialogar com a oposição.
"Essas coisas precisam ser muito transparentes. Se o governo quer propor um diálogo, ele que faça isso publicamente. Eu, na direção do PT, vou analisar."
Na terça-feira, Dirceu havia conversado com o deputado Miro Teixeira, líder do PDT na Câmara. Por isso sabia das segundas intenções do governo. Miro já teve pelo menos três conversas com FHC.
Em janeiro, viajaram juntos para o Rio, no Boeing presidencial. Dois meses depois, voltaram a se encontrar em solenidade no Planalto. Ao final, o presidente chamou o deputado para conversar.
Há três meses, Miro fez um discurso sobre câmbio na Câmara. Fernando Henrique gostou do conteúdo. Convidou-o para nova conversa no Planalto. Em todos os encontros falaram sobre pacto.
No início de agosto, no Paraguai, o presidente disse aos jornalistas que gostava muito da idéia de um diálogo entre governo e oposição, tese defendida por Miro.
O deputado foi a Leonel Brizola, liderança máxima do PDT. A conversa, testemunhada por Neiva Moreira, presidente do partido, ocorreu há cerca de 30 dias. Após ouvir o relato do deputado, Brizola mostrou-se cético.
Fez várias críticas a Fernando Henrique. Em seguida, disse que os partidos que conduziram o presidente ao poder não permitiriam que ele se entendesse com a oposição. Afirmou também que duvidava que Fernando Henrique tivesse coragem de enfrentar o PFL.
Brizola, porém, fez uma concessão. Disse a Miro que, se os jornalistas lhe perguntassem, diria que o deputado estava autorizado pelo PDT a conversar com o presidente Fernando Henrique.
Jobim acha difícil que os entendimentos evoluam para um pacto. Mas espera obter a formalização de um entendimento em torno de temas pontuais.

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